Em qualquer lugar do mundo, preservação e revitalização de sítios históricos são um gigante desafio para a gestão pública. Na burocracia do Brasil, a coisa piora muitos anos luz.
João Pessoa, terceira capital mais antiga do País, provou, ontem, que é possível, com dinamismo, criatividade e persistência, superar os entraves e mandar os obstáculos para o arquivo.
A materialização do Projeto Villa Sanhauá tem forte significado para a auto-estima dessa Capital de Nossa Senhora das Neves.
Uma cidade que se orgulha de sua história centenária e sempre invocou esse discurso, mas que pouco fez na prática para sair do sonho de tantos e chegar a uma realidade de todos.
A Villa Sanhauá é mais do que a restauração da arquitetura original. Vai além da parede pintada. É um mix de ações e boas combinações.
Da delicada desapropriação às complexas licenças dos institutos. Do atendimento das mínimas exigências do patrimônio histórico às obras de pedra e cal.
Todo esse esforço é, sim, válido. O ponto alto, porém, está no conceito em si. A conciliação de habitação (de qualidade), arte, cultura, história, serviços e economia num espaço que só servia para fotos de catálogos de turismo, na melhor das hipóteses, ou para manchete de jornal estampar as ruínas e riscos coletivos.
A gestão municipal, finalmente, acertou o passo. Entendeu que revitalização não se faz apenas com tinta e eventos esporádicos. A verdadeira revitalização acontece inserindo vida no espaço. E vida quem dá é gente!
Gente para morar, produzir, circular, investir, convidar, compartilhar, interagir, comprar e vender. Nada disso se levanta apenas com novas paredes, por mais necessário que fosse reerguê-las e celebrar a despedida das rachaduras, do lodo e dos escombros que enfeiavam nosso cartão de apresentação.
A Villa Sanhauá é o start e ao mesmo parte de uma grande articulação de intervenções (Beira-Rio, Lagoa, Praça da Independência, Casa da Pólvora, Parque da Bica e Praça da Independência) a promover a interação da João Pessoa nova com a cidade velha.
Mas é, acima de tudo, o retrato de uma decisão política. Essa decisão leva a assinatura de Luciano Cartaxo, prefeito da cidade.
Com um investimento de R$ 4,2 milhões, relativamente pequeno para o significado e o resultado dos previsíveis desdobramentos, Luciano lega um histórico ensinamento: o verdadeiro valor da obra está no conteúdo. Não na embalagem.