As eleições na Colômbia, no último domingo (17), e no México, no próximo dia 1º, trazem um elemento que ajuda a pensar o pleito brasileiro de outubro. Nos dois casos, a disputa gira em torno da opção direita versus esquerda, mostrando que essa dualidade permanece central. Também aqui algo do tipo deverá ocorrer, em que pese a cerrada neblina que nos envolve no momento.
O direitista Iván Duque venceu o segundo turno no país de Gabriel García Márquez, mas a esquerda, pela primeira vez, firmou-se como alternativa de poder. Com 42% dos votos, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro firmou a coligação Colômbia Humana na qualidade de força que precisará ser levada em consideração daqui para frente.
Retardatário (em virtude da longeva guerra civil) a constituir uma corrente eleitoralmente competitiva, como ocorreu a partir dos anos 1990 em outros países da região, o campo popular colombiano passa agora a fazer parte efetiva do jogo institucional.
No México, prevê-se a vitória de Andrés López Obrador, líder do Morena (Movimento de Regeneração Nacional), contra Ricardo Anaya, do conservador PAN (Partido de Ação Nacional).
O ex-prefeito de centro-esquerda da Cidade do México chega como franco favorito à sua terceira eleição presidencial e há quem considere inevitável, desta vez, a sua ascensão ao governo, a menos que haja fraude. Vale lembrar que em 2006 ele perdeu por apenas 0,6% dos votos e fez longa campanha, frustrada, pela recontagem dos sufrágios.
Seja qual for o resultado, o México confirma a tendência de a América Latina afunilar a disputa para opções ideologicamente polares. Sem embargo das incontáveis contradições de cada formação capaz de vencer, elas representam escolhas que apontam para caminhos diferentes no que diz respeito aos temas do Estado e da igualdade.
No Brasil, a concorrência entre PT e PSDB traduziu durante 20 anos tal bifurcação. Mesmo que a Lava Jato tenha abalado os grandes partidos, os dois polos que eles representaram precisarão achar um modo de se unificar em 2018, ao menos no segundo turno.
Tal como as melancias no caminhão, o sacolejo irá arrumando, numa ala, as relações entre Bolsonaro, Alckmin, Meirelles (Temer), Maia e Marina. Do outro lado, Lula (ou quem ele indicar), Ciro (ainda que tenha acenado com alianças à direita), Manuela e Boulos precisarão, de algum modo, se entender.
Dada a heterogeneidade, fragmentação e desestruturação provocada pela crise, o processo de unidade será difícil de parte a parte. Mas, preservada a democracia, no fim a lógica deverá prevalecer. E quem compreender rápido a natureza do jogo pode extrair vantagem da antecipação.
Folha