Os desafios de ser uma mulher, repórter, sozinha, no interior da Rússia. Por Tatiana Furtado – Heron Cid
Bastidores

Os desafios de ser uma mulher, repórter, sozinha, no interior da Rússia. Por Tatiana Furtado

20 de junho de 2018 às 16h20 Por Heron Cid
Tatiana Furtado, enviada especial à Russia de O Globo

SAMARA (Rússia) — Machismo é machismo em qualquer lugar do mundo. Mas numa língua desconhecida é pior. Porque você não entende as piadas, as risadas e até coloca em dúvida se é com você. Mas toda mulher sabe quando é com ela. Na recepção do hotel de Samara, pergunto algo sobre a estreia da Rússia, a expectativa deles, se vão ver na Fan Fest e um hóspede se intromete. Em inglês difícil de entender, quer saber de onde sou e se oferece para me acompanhar até lá. Digo que já estou a caminho, a trabalho. Em russo, fala alguma gracinha. O recepcionista dá um sorriso sem graça, e a outra recepcionista dá um fora – não sei o que disse, claro — e se mostra constrangida. É óbvio que foi um comentário machista.

Afinal, uma mulher sozinha pelo mundo ainda espanta. Uma mulher sozinha pelo mundo e trabalhando num ambiente dominado por homens espanta muito mais. De mochila nas costas, crachá no pescoço, laptop a postos e celular na mão em busca de histórias, deveria ser mais uma entre tantos credenciados. Mas não sou. Sou uma minoria cujo espanto agora é meu. Num centro de imprensa com centenas de lugares posso contar nos dedos quantas jornalistas estão presentes. Não chegam a 10 na entrevista coletiva da Espanha. Não à toa a sala de imprensa do estádio do CSKA sequer tinha banheiro feminino.