O empate com a Suíça me preocupou menos do que seu possível efeito negativo no estado de espírito do brasileiro, cujo humor, como se dizia na coluna de sábado, véspera do jogo, é ciclotímico, ora está lá em cima, ora lá em baixo. Como o país vem de uma fase ruim em vários setores — crises política, econômica, moral — contava-se com uma vitória no futebol para, por contágio, espantar o baixo astral e a tristeza geral.
Por via das dúvidas, porém, lembrava-se que, se acontecesse o pior, quer dizer, uma derrota, ainda assim seria apenas o começo da Copa, não o fim do mundo. Ou, na original afirmação de um de nossos craques, “é melhor empatar do que perder”. O que veio acabou nem sendo o pior, o pior aconteceu com a campeã Alemanha, que sucumbiu para um azarão, o México. Aliás, o único time dos mais cotados a se sair bem, a ganhar com folga na primeira rodada, foi a Bélgica, que por sinal nunca ergueu a taça de campeã.
Afinal, no nosso caso foi apenas um tropeço, que mesmo assim provocou manifestações de impaciência e irritação de torcedores, sem falar na distribuição de culpas em comentários do tipo “também, o Tite deixou pra fazer as substituições quando não dava mais tempo”; “também, o Neymar, com aquele penteado, não conseguia nem cabecear, o topete amortecia a bola”. Esqueciam que, se os juízes de campo e de vídeo tivessem marcado o pênalti em Gabriel Jesus e o empurrão em cima de Miranda, o Brasil provavelmente teria vencido o jogo.
Isso, no entanto, não isenta a seleção de críticas. Há o consenso de que ela não jogou o que sabe ou o que pode, uma opinião que é confirmada pelas estatísticas: em 45 oportunidades, os suíços tomaram a bola dos brasileiros, e em 57% desses casos ela estava com Neymar, Coutinho e Gabriel Jesus. Só a estrela do time perdeu 24% dos lances desarmados pelos suíços. Pode-se alegar que não o deixaram parar de pé. Mas se ele sabe que é assim, por que não muda sua estratégia e procura se posicionar de modo a receber as faltas dentro da área?
Quanto à qualidade do adversário, o jogo também terminou empatado entre dois importantes analistas: um se referiu à Suíça como “fraca”. O outro disse que se tratava, ao contrário do mais forte, isto é, do “pior adversário do grupo”.
Por fim, uma crença — a de que o Brasil vai ser campeão — e um temor — o da overdose de imagens e sons da Copa até o dia 15 do mês que vem. Não sei se vamos aguentar. Apenas no domingo pós-jogo, vi uns dez gols de Coutinho, uns 20 empurrões em cima de Miranda, outros tantos atropelamentos de Gabriel Jesus. E intermináveis gritos de “goooooooooooooooooooo!!!!” que ecoam até hoje.
O Globo