Michel Temer tornou-se um presidente extremamente impopular também no seu partido. Candidatos do MDB ao Legislativo revelam-se capazes de tudo, menos de vincular seus projetos eleitorais ao presidente da República. Caciques políticos regionais receiam que a ruína do governo Temer comprometa um dos principais trunfos do partido: a supremacia de suas bancadas na Câmara e no Senado.
Repete-se sob Temer um fenômeno que marcou o governo de José Sarney. Depois de chegar à Presidência sem passar pela pia batismal das urnas, o (P)MDB transformou a vitrine do Planalto num forno de micro-ondas. Um dos espetáculos mais divertidos da campanha eleitoral de 2018 será a acrobacia retórica dos emedebistas para se distanciar do presidente carbonizado.
Há casos extremos, como o do senador Renan Calheiros, que tenta se reeleger em Alagoas esgrimindo uma retórica que mistura elogios a Lula e ataques frontais a Temer. Mas a maioria dos candidatos do MDB sinaliza a intenção de não mencionar o nome do presidente durante a campanha —a não ser em legítima defesa, quando algum adversário tentar estragar o jogo de esconde-esconde.
O feitiço ameaça enfeitiçar também a hipotética candidatura presidencial de Henrique Meirelles. Com uma taxa de intenção de votos mixuruca —1% no Datafolha— o ex-ministro da Fazenda também é tratado pelos correligionários que pleiteiam cadeiras no Congresso como um espantalho de votos.
Outro espetáculo engraçado será oferecido pelo MDB depois DA abertura das urnas. Dependendo do presidente que for escolhido para o lugar de Temer, o partido terá de redescobrir o que é oposição. Ou, por outra, terá colocar toda a sua criatividade retórica a serviço da construção de um discurso que justifique o retorno às benesses do poder.
UOL