Os dois economistas da campanha da Marina acham que a primeira urgência é a reforma política. Mas não mostram como isso melhoraria a governabilidade numa eventual administração Marina. Falaram em rever a regra do teto, e não deixaram claro o que pôr no lugar. Andre Lara Resende e Eduardo Giannetti em seus textos e análises mostram visão ampla da sociedade, mas nenhum tem apetite para estar no governo.
Na entrevista ao “Valor”, André Lara e Giannetti disseram que as duas urgências são, pela ordem, a reforma política e a crise fiscal.
Defendem acabar com a reeleição já para o próximo mandato e fazer as eleições legislativas um pouco depois da presidencial, para permitir ao governante organizar sua base. Citam o caso francês de Emmanuel Macron que, mesmo sem ter partido, conseguiu formar uma coalizão de governo porque ao ser eleito acabou atraindo votos para os parlamentares que sustentariam sua administração. Mesmo se isso funcionar no Brasil não será para o próximo governante, que terá que lidar com o Congresso a ser eleito este ano, com regras que desestimulam a renovação.
André Lara e Giannetti defendem o agronegócio como um setor dinâmico e de desenvolvimento tecnológico. Ao mesmo tempo, alertam que se os empresários do setor não protegerem a Amazônia não terão chuvas no Cerrado para seus cultivos. Na verdade esse equilíbrio entre produção e proteção é até mais amplo. O próprio Cerrado não pode ser desmatado. O problema é que não existem muitos produtores querendo ouvir uma proposta assim, a julgar pela pauta da bancada ruralista no Congresso.
Marina desde 2010 tem dito que é preciso buscar na economia um ponto longe da polarização que opõe equilíbrio fiscal à política social ativa. Há quem entenda que ela defende ajuste nas contas públicas por ter de se render ao “mercado”. Na verdade, é se render à lógica. A estabilidade da moeda não fica de pé no meio do descontrole, e a inflação fere mais os pobres. André e Giannetti defenderam esse ponto do meio entre fiscalistas e gastadores.
— Tenho certa resistência em relação a uma visão excessivamente fiscalista, no sentido de que o único objetivo no curto prazo é equilibrar e reduzir o déficit fiscal. A questão fiscal deve ser encarada com uma perspectiva de alguns anos — disse André Lara.
— Achamos o teto (de gastos) uma medida excessiva. Congelar o gasto público por 10 anos é completamente fora de proporção. Mas somos absolutamente comprometidos com o equilíbrio fiscal — disse Giannetti.
Não explicaram como é possível ter gradualismo fiscal, eliminar o teto de gastos e buscar o equilíbrio. São três bolas no ar. Desde a última eleição, a situação das contas públicas caiu num precipício. O déficit que surgiu em 2014, encerrando 16 anos de superávit primário, se aprofundou e hoje é 2% do PIB, a dívida pública está em trajetória perigosa. O teto não congela os gastos nominalmente. Eles crescem conforme a inflação. Realmente se houver um horizonte para o equilíbrio, isso será trazido a valor presente, portanto a proposta de ajuste gradual é um bom caminho. O problema é que sem o teto fica mais difícil. Mesmo que se consiga fazer a reforma da Previdência ampla, e com eliminação das “castas”, como disseram. Será preciso escolher onde cortar mais, e a quem tributar mais. Os dois argumentaram que a carga tributária é alta e não pode continuar subindo. Defenderam queda do imposto sobre remédios. Eles não falaram em atacar os benefícios fiscais, que hoje representam um enorme gasto. Reduzi-los é o caminho incontornável para se ter justiça tributária no país.
A estratégia da candidata da Rede, expressa pelos dois economistas, é ficar longe dos polos. “Marina é a única com possibilidade de unir o Brasil. Bolsonaro e Ciro têm a guerra na alma”, disse Giannetti. Ele também criticou a proposta de Ciro de estabelecer um teto para o pagamento de juros. “Isso é calote”. André defendeu o Bolsa Família, mas quer mais medidas de inclusão através da educação. Em privatização se dizem “não dogmáticos”. Eletrobras, sim, Petrobras, não, por ser um monopólio de fato. Os dois economistas da campanha de Marina buscam o difícil caminho do meio num país polarizado.
O Globo