A quatro meses da eleição presidencial, a negociação das coligações partidárias está completamente indefinida. Isso acontece porque a Lava Jato pulverizou o protagonismo do PT e do PSDB. Desde 1994, esses dois partidos polarizavam as disputas presidenciais. Depois de 24 anos, perderam a condição de pólos automáticos de atração. Com Lula preso e inelegível, os aliados do PT foram cuidar da vida. Com Alckmin e o estado-maior tucano dentro do caldeirão em que fervem as reputações políticas, os parceiros do PSDB também testam alternativas.
Assim como os partidos, o eleitorado retarda suas definições. Na mais recente pesquisa do Datafolha, veiculada neste final de semana, o índice que ocupa o topo do ranking é justamente o percentual de votos brancos, nulos ou indecisos: 34% no total. A marquetagem dos partidos se desdobra para fisgar esses eleitores sem candidato. Mas, por enquanto, ninguém conseguiu romper a nuvem de raiva e desalento que intoxica o humor de mais de um terço do eleitorado.
Pela primeira vez desde a redemocratização há um candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, com reais chances de vitória. Preteridos em disputas anteriores —Ciro Gomes e Marina Silva— fazem pose de alternativas. Eles se mantêm vivos nas pesquisas eleitorais. Falta-lhes, porém, estrutura partidária. O tempo de propaganda televisiva de Bolsonaro e Marina é de apenas 10 segundos cada um. Ciro tem 33 segundos.
Para ampliar a vitrine eletrônica, é preciso fazer alianças. Bolsonaro, que se diz limpinho, flerta com o PR do ex-presidiário Valdemar Costa Neto. Ciro, que se declara de esquerda, namora com o liberal DEM. Aos pouquinhos, o seminovo vai ganhando uma aparência muito antiga. Logo virão os anúncios de casamentos de jacarés com cobras d’água.
UOL