Amplos setores do MPF e da PF têm seu candidato à Presidência: Jair Bolsonaro. Isso não é uma opinião. É um fato. Falemos um pouco do meio ambiente que gera essa aberração, essa teratologia moral.
Não foi sem estoica melancolia que li o manifesto assinado, de saída, por Cristovam Buarque, Fernando Henrique Cardoso, Marcos Pestana e Aloysio Nunes Ferreira, que faz a defesa de um “projeto nacional” que “a um só tempo, dê conta de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento social e econômico (…) e afaste um horizonte nebuloso de confrontação entre populismos radicais, autoritários e anacrônicos.”
O texto é bom. É desejável que “democratas e reformistas” tentem conjurar os reacionarismos opostos e combinados da esquerda e da extrema direita, que impõem desde já a sua agenda: o acordo celebrado pelo governo com os ditos caminhoneiros é uma ode ao atraso, ao corporativismo e ao cartorialismo. Como foi possível?
O presidente ficou sozinho. Como num conto de Lygia Fagundes Telles, “vivos e mortos desertaram todos”. Os líderes do Congresso, os governadores e os presidenciáveis sumiram. Boa parte da imprensa assistiu a práticas terroristas como quem diz: “Hoje é sexta-feira, dia 8 de junho. Faz frio…” PT, seus cronistas, Ciro e afins aproveitaram a deixa: “Vejam no que dá o golpismo…” O raciocínio é asnal.
Melancólico, no que respeita ao manifesto, é o vazio a que o texto foi relegado. Seria a nossa versão do “compromisso histórico”, o acordo celebrado na Itália, originalmente, entre comunistas e democratas-cristãos. Com idas e vindas, troca de atores e mudança de siglas partidárias, vigorou do fim da década de 1970 até a razia que a Operação Mãos Limpas provocou no establishment político do país.
Não é raro que democracias celebrem acordos de forças distintas, mesmo antagônicas, em nome da governabilidade. Ou os políticos o fazem –além da Itália, vimos isso acontecer em Portugal, na Espanha e na Alemanha–, ou o próprio eleitor obriga a coabitação, como já se deu na França.
Fiquemos por estas plagas. Os populismos que nos ameaçam são a consequência do processo de destruição da política a que passaram a se dedicar o MPF, a PF e setores do Judiciário. O PT viu sua grande estrela, entre outras menores, ir para a cadeia, mas sobreviveu e venceria a eleição se Lula fosse o candidato.
A grande vítima do surto de moralismo burro, que nada tem a ver com o combate à safadeza, é o “centro”. A razão é simples: é ele o protagonista, por excelência, da política. E a metafísica influente diz que a política é a mãe da corrupção.
Observem que os alvos da operação são as principais lideranças que governaram o país desde a redemocratização. Atenção! Nesse grupo, incluo o próprio Lula porque, ideologicamente, ele é bem mais amplo do que o PT. E que fique claro: falo do Lula governante, não daquele que era admirado pelo amostrado Marcelo Bretas…