Quem acompanha o noticiário político já esbarrou com o discurso de que é preciso “unir o centro” na disputa presidencial. A conversa ganhará nova roupagem hoje, com o lançamento do manifesto “Por um polo democrático e reformista”.
O documento foi articulado pelo deputado Marcus Pestana, secretário-geral do PSDB. Ele colheu assinaturas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e dos ministros Aloysio Nunes e Raul Jungmann.
“Queremos estimular a reflexão e sensibilizar os pré-candidatos”, diz Pestana. “Se o nosso campo se fragmentar, podemos ficar fora do segundo turno. Aí a Presidência ficaria entre dois extremos, o bolsonarismo e a esquerda”, afirma.
O “nosso campo”, segundo o tucano, inclui sete presidenciáveis: Flávio Rocha, João Amoêdo, Rodrigo Maia, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, Alvaro Dias e Paulo Rabello de Castro. Ele também admite incluir a ex-petista Marina Silva.
“Todas as candidaturas são legítimas, mas não podemos esperar um segundo turno entre a catástrofe e o desastre. Se o apocalipse se anunciar, quem estiver em piores condições poderia renunciar até 15 dias antes da eleição”, defende Pestana.
Os alvos do manifesto têm algo em comum: todos apoiaram o impeachment que instalou Michel Temer no poder. Nos últimos meses, o bloco se dividiu. Um pedaço continuou agarrado ao governo. Outro saiu de fininho, tentando se descolar da impopularidade presidencial.
À exceção de Marina, todos os políticos do “polo reformista” se enquadram nas definições clássicas de direita ou centro-direita. O problema do grupo não está na nomenclatura. O que preocupa mesmo é a concorrência de Jair Bolsonaro, que cresceu e se consolidou no eleitorado antipetista.
Não é difícil encontrar o DNA do governismo no discurso a favor da “união do centro”. A quem tiver dúvidas, recomenda-se pesquisar declarações recentes do próprio Temer. “Se houver algo que seja útil para o país, e daí a história da união de todos os candidatos de centro, por que não apoiar?”, ele perguntou, em entrevista ao SBT.
O deputado Pestana, que ajudou a coordenar a campanha de Aécio Neves em 2014, nega que o manifesto tenha o carimbo do Planalto. “Nossa tese tem os olhos postos no futuro”, desconversa.