Parece democrático, mas não é. Não passa de um engodo. Que quase sempre resulta em estelionato eleitoral. Os políticos servem aos eleitores o que os eleitores querem ouvir, mas não necessariamente o que eles pensam. E assim mentem, escamoteiam. E assim também transfiguram a realidade que enfrentarão mais tarde se eleitos.
Fernando Henrique Cardoso fez isso, por exemplo, para se reeleger em 1998. Não precisou de pesquisas para saber que perderia a eleição se admitisse a verdadeira situação falimentar do país, muito menos que seria forçado a desvalorizar o real. Negou que pretendesse fazê-lo. Mas o fez logo no primeiro mês do seu segundo mandato.
Dilma Rousseff agiu da mesma forma para se reeleger em 2014. Jamais admitiu promover um duro ajuste fiscal se eleita. Dizia que ajuste era discurso da oposição ao seu governo, interessada em derrotá-la. Uma vez reeleita, tentou fazer o ajuste. Cortou gastos com projetos sociais. Faltou-lhe vontade e também apoio para completar a tarefa.
Nenhum dos atuais candidatos à sucessão presidencial de outubro próximo deu sinais de que pretenda aproveitar a campanha para enfrentar com realismo os problemas acumulados pelo país. Serão capazes de enumerá-los, naturalmente, de apontar os culpados por eles ao gosto e de acordo com as conveniências de cada um.
Mas, quanto ao que eles se dispõem a fazer de fato? O que farão exatamente, não importa o que pensem ou desejem os eleitores? Como governarão, por exemplo, sem ceder aos vícios de um sistema político que apodreceu, mas que resiste a desmoronar e que continuará ativo ainda por muito tempo, sabe-se lá até quando?
Enquanto os eleitores preferirem escutar só os que lhes agrada, e os candidatos, por oportunismo e ambição, só disserem o que eles querem escutar, a democracia seguirá como um jogo de esconde-esconde. Não ouço o que me contraria. Não digo o que possa contrariá-lo. Finjo acreditar no que ouço. Eu finjo acreditar no que digo.
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