Em 2013, começou com o reajuste das passagens de ônibus. Os protestos tomaram as ruas, os políticos revogaram o aumento, mas os manifestantes se recusaram a voltar para casa. “Não é só por 20 centavos” virou o novo mote dos descontentes. O movimento cresceu e adotou outras bandeiras, do combate à corrupção ao cancelamento da Copa do Mundo.
O fantasma de uma nova onda de revoltas passou a assombrar o meio político. Era o que se ouvia ontem em Brasília, diante dos sinais de que a crise de abastecimento pode se prolongar. O governo prometeu até o que não podia, mas não conseguiu acabar com a mobilização. “Não era só pelos 46 centavos”, parecem gritar os caminhoneiros que continuam parados.
O Planalto pensou que liquidaria a greve ao reduzir o preço do diesel. Não funcionou, e os piquetes resolveram diversificar a pauta. Agora ensaiam uma rebelião contra o sistema político e cobram a saída de Michel Temer. A extrema-direita tenta assumir o comando e espalha faixas a favor de uma “intervenção militar”, leia-se golpe.
“Não é o caminhoneiro mais que está fazendo greve. Tem um grupo muito forte de intervencionistas aí”, contou o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, José da Fonseca Lopes. “São pessoas que querem derrubar o governo”, acrescentou.
O Planalto dá sinais de que continua perdido. Temer diz apostar no diálogo, mas já tentou endurecer com os grevistas. Na sexta-feira, prometeu usar o Exército para desbloquear rodovias. No fim de semana, falou em prender empresários que estimulam a paralisação. As duas ameaças não saíram do plano da bravata.
Ontem o presidente tentou apelar a forças mais elevadas. “Se Deus quiser, logo superaremos”, disse. Por via das dúvidas, ele transformou mais um pastor evangélico em ministro. O deputado Ronaldo Fonseca, da Assembleia de Deus, assumiu a Secretaria-Geral da Presidência.
Ainda não é possível saber se estamos diante de um novo 2013. O movimento não tem hierarquia clara, e os grupos se organizam e desorganizam em centenas de grupos de WhatsApp. Uma das poucas certezas é que os políticos voltaram a ficar à deriva. À noite os líderes partidários falavam em fazer novas concessões, mas não sabiam ao certo com quem negociar.
O Globo