Sergio Moro trancou Lula numa “sala reservada” da Polícia Federal. Atribuiu o privilégio à “dignidade do cargo” que o preso ocupou. O juiz Luiz Carlos Rezende e Santo também enviou o tucano Eduardo Azeredo para uma “sala de Estado Maior”. Por quê? As penitenciárias mineiras ”passam por problemas de toda sorte”, escreveu o juiz. E Azeredo, figura de “inegável status”, “ex-governador”, merece “segurança individualizada”, justificou o magistrado. Decisões desse tipo ajudam o brasileiro a enxergar mais uma velha anomalia nacional: a cana dos poderosos.
No Brasil, os criminosos são tratados conforme o status social e a graduação profissional. Um político poderoso ou qualquer cidadão com canudo universitário —médico, advogado, jornalista…— mata uma pessoa e vai para uma prisão especial. Um jovem da periferia é flagrado com uma pequena quantidade de maconha e é enfiado numa cela superlotada, virando mão-de-obra para as facções criminosas.
Um ex-presidente e um ex-governador se beneficiam de dinheiro roubado do povo e vão para acomodações com banheiro privativo, TV individual, roupa de cama limpa, café da manhã, almoço, jantar e ceia. A suavidade do castigo é regulada pela origem do preso, não pela gravidade do crime. É aviltante, mas tem amparo legal. Ou igualam-se os presos ou elimina-se o privilégio. Extinguindo-se a cana especial, petistas e tucanos organizarão passeatas contra o abandono e a superlotação das prisões. Do contrário, logo, logo haverá filas de sem-teto exigindo hospedarias especiais como as de Lula e Azeredo.