Henrique Meirelles sempre sonhou em se aventurar numa corrida presidencial. Não imaginou que receberia um carro batido, com os pneus furados e na última posição do grid.
O primeiro desafio do ex-ministro é conseguir dar a largada. Seus maiores adversários estão no próprio MDB. Figurões do partido, como Renan Calheiros, prometem fazer de tudo para impedi-lo de entrar na pista.
A sigla não lança candidato ao Planalto há 24 anos. Sua especialidade é outra: eleger parlamentares e vender apoio ao governo, seja quem for o presidente.
Se sobreviver à convenção partidária, em julho, Meirelles passará a enfrentar a sabotagem interna. Em 1989, o ex-PMDB abandonou Ulysses Guimarães à própria sorte. Em 1994, repetiu a dose com Orestes Quércia. Os dois tiveram desempenho de nanicos, com menos de 5% dos votos.
As perspectivas deste ano não parecem muito melhores. Apesar da superexposição na Fazenda, Meirelles não passa de 1% nas pesquisas. Está empatado com rivais não correm o risco de ser reconhecidos na rua, como João Amoêdo e Paulo Rabello de Castro.
O ex-ministro queria chegar a 2018 num cenário bem diferente. Esperava ser reconhecido como o homem que tirou a economia do buraco. Agora a recuperação empacou, e o país volta a enfrentar a disparada do dólar e do preço dos combustíveis.
Meirelles ainda terá que carregar a impopularidade alheia. Segundo o Datafolha, 86% dos brasileiros rejeitam votar em alguém apoiado por Michel Temer. O presidente virou um espantalho de votos. Nem o Papa seria capaz de vencer como o candidato do “Tem que manter isso, viu?”.
O ex-ministro sabe disso, mas ainda não pode abandonar o ex-chefe. Ontem ele declarou que Temer será “um cabo eleitoral positivo”, e que a palavra “coragem” é a melhor definição do governo que está aí. Precisará de mais coragem ainda para repetir isso na campanha.
O Globo