Ciro Gomes, presidenciável do PDT, tem a fama de peixe: morre sempre boca. Tende a falar o que dá na telha. Na sabatina realizada por Folha, UOL e SBT, houve quem julgasse estar diante de um desses momentos quando ele anunciou que, se eleito, vai revogar o teto de gastos e a reforma trabalhista, que chamou de “medidas de um governo golpista”. Foi além: teve um ataque aparentemente cesarista — e, com efeito, Júlio César tinha crises espasmódicas, talvez epilepsia, não se sabe — e criticou o “presidencialismo de coalisão”, que disse ser invenção de Fernando Henrique Cardoso. Na aparência, uma soma de loucura com ignorância. Na prática, método.
Por quê? Ciro está deixando claro que será ele o candidato do PT. Dos nomes com chances de chegar ao Planalto, só ele faz essas propostas. Outro que empunharia essas bandeiras — menos a crítica ao presidencialismo de coalisão — é Lula. Ocorre que, na hora “h”, o PT e o próprio sabem que será declarada a sua inelegibilidade. E daí? A pauta petista já estará contemplada. Ao fazer esses acenos, Ciro deixa claro que não quer mesmo conversa com o que as esquerdas chamariam de “agenda liberal”.
Se e quando o pedetista disputar a liderança nas pesquisas de intenção de votos, o dólar chega fácil, fácil a R$ 4. Bem, essa é a hora em que a esquerda não-revolucionária, como fez o PT no passado, senta, então, para conversar. Nessa hipótese, ele dará um jeito de afirmar que o fim do teto de gastos não é bem assim; que apenas quer liberar mais recursos para saúde e educação, mas que haverá um limite e coisa e tal. A “reforma trabalhista” que ele chama “golpista” certamente seria substituída por outra para aplacar os ânimos. Mas falta bastante para ele atingir essa condição.
Até lá, levará adiante essa conversa. E a reforma da Previdência? Ciro investe na falácia de que o sistema, como um todo, não é deficitário quando levadas em conta as contribuições sociais e todo o sistema de seguridade. É pura matemática criativa. Concordam 100% com essa agenda os esquerdistas Guilherme Boulos e Manuela d’Ávila, além, como já destaquei, de Lula. Mas o petista será declarado fora do jogo, e os outros não disputarão de verdade a partida. Na sabatina feita pela Folha, o presidenciável do PDT está apenas delimitando os campos. Sabe que, do lado de lá da linha, imperam a bagunça, a indefinição e um formidável trombar de cabeças.
Do lado de lá, estão justamente os candidatos identificados com a tal agenda liberal. Acabar com o teto de gastos? Pois é… Ciro classifica a medida de “ação do governo golpista de Temer”. Ocorre que os candidatos do campo chamado “liberal” ou “conservador” não querem defender propostas do governo Temer. O mesmo vale para a reforma trabalhista. E para outras medidas corretas da gestão em curso.
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