Geraldo Alckmin reage às investigações que o assediam de maneira peculiar. Seja qual for a acusação, manda dizer que “continua disposto a prestar todos os esclarecimentos necessários às autoridades competentes.” Embora seja candidato à presidência da República, parece considerar que não deve nada ao eleitorado, muito menos explicações.
As pesquisas indicam que o presidenciável tucano talvez tenha perdido a hora de compreender que o potencial do seu projeto escoa pelo ladrão. Na sondagem mais recente, do instituto MDA, a taxa de intenção de votos de Alckmin caiu de 8,6% para 5,3%. Em alta, só a sua rejeição, que subiu cinco pontos e já registra 55,9%.
Estavam sobre a mesa as delações dos executivos da Odebrecht. Somaram-se a elas novas acusações de representantes da CCR, concessionárias de rodovias que resultou de uma sociedade da Andrade Gutierrez com a Camargo Corrêa. Em ambos os casos os depoentes mencionaram um nome: Adhemar Ribeiro.
Adhemar é irmão de Lu, a mulher de Alckmin. Não faz nexo atribuir o risco de naufrágio do candidato às nuvens que os delatores colocaram sobre sua embarcação e fingir que não há um cunhado no convés. Os trovões da Odebrecht e da CCR espantam menos do que o fato de Alckmin não ter brindado Adhemar com um raio que o parta.
No caso da Odebrecht, o cunhado foi apontado como intermediário de Alckmin no recebimento de parte dos R$ 10,3 milhões provenientes do departamento de propinas da empreiteira. Na investigação da CCR, Adhemar é mencionado como coletor de algo como R$ 5 milhões.
O nome de Alckmin soou nas delações de pelo menos dois executivos da Odebrecht. Benedicto Júnior, chefe do Departamento de Operações Estruturadas, eufemismo para setor de propinas, contou que a empreiteira repassou dinheiro de má origem para as campanhas de Alckmin em 2010 e 2014.
O executivo Carlos Armando Paschoal declarou que, na campanha de 2010, R$ 2 milhões foram entregues ao cunhado. “Passei a contactar o Adhemar Ribeiro, que definia locais de entrega dos recursos. As entregas foram preponderantemente feitas no escritório dele.”
Pode-se acusar a Odebrecht de muita coisa, mas é impossível deixar de admirar sua organização. O pagamento de propinas a políticos cabia a uma divisão da empresa criada exclusivamente para este fim: o setor de Operações Estruturadas. O departamento tinha suas próprias instalações e seu próprio corpo de funcionários — e, desgraçadamente para Alckmin, seus próprios arquivos.
Ainda é desconhecido o grau de sofisticação da caixa paralela da concessionária CCR. Mas num ponto as revelações de seus representantes coincidem com as delações da Odebrecht: as coletas de Adhemar Ribeiro são associadas à campanha de Alckmin em 2010.
Quando diz que “continua disposto a prestar todos os esclarecimentos” e, simultaneamente, sonega explicações sobre o irmão de sua mulher, o presidenciável tucano está, no fundo, pedindo à plateia que faça como ele: se finja de bobo pelo bem da melhor candidatura que a oligarquia tucana pode oferecer ao Brasil.
Cada minuto que Adhemar permanece em cena sem uma boa explicação, o problema aumenta. No estágio atual, é como se Alckmin tivesse do seu lado não um cunhado, mas um elefante. Para o tucanato, está combinado que nada aconteceu. E pelo resto da campanha, Alckmin viverá uma experiência surreal.
Há um elefante no convés. E ninguém comenta. Alguns promotores distraídos esbarram na tromba do animal. Mas Alckmin e o tucanato convencionaram que o elefante não está lá. Mais: se tromba houvesse, seria da alçada da Justiça Eleitoral, não da Lava Jato ou da promotoria paulista.
O problema de certos espetáculos políticos é que o eleitor não foi bem ensaiado para o papel de bobo.
UOL