A turma da “renovação” está frustrada? Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

A turma da “renovação” está frustrada? Por Reinaldo Azevedo

21 de maio de 2018 às 10h09 Por Heron Cid

“Novidade” não é categoria política.

“Novidade“ não é categoria de pensamento.

Mais ainda: que relação necessária existe de causa e efeito indicando que a “renovação”, por si só, quer dizer qualidade? Qual é a experiência firmada que se tem a demonstrar que o novo não pode tornar pior o antigo?

Reportagem do Estadão desta segunda informa a frustração de grupos e seus respectivos líderes com o que aponta para uma baixa renovação das forças políticas no próximo Congresso Nacional.

É mesmo! Com a devida vênia, bem-feito para os frustrados!

Lessem mais Fernando Pessoa e prestassem menos atenção a “pesquisólogos” que costumam encontrar em seus levantamentos aquilo que já haviam achado antes mesmo da pesquisa, não haveria decepção. O que escreveu mesmo o poeta em “Tabacaria”? Eu lembro:

“O mundo é para quem nasce para o conquistar/
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez./
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,/
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu./
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,/
Ainda que não more nela;”

A nossa turma da “renovação” não percebeu que padecia, desde sempre, de “marinite” aguda. É aquela síndrome desenvolvida por Marina Silva que consiste em afirmar que o que está aí não serve, acusando os adversários de obstar a sua passagem porque, sendo eles quem são, não permitem que ela seja quem é. Ou por outra: o que atrapalha o jogo, nessa particular visão de mundo, é o adversário…

Entendo!

Não querem ler Fernando Pessoa? É muito difícil? Poesia é para almas mais complexas? Prestassem mais atenção ao que tenho escrito em prosa mesmo. Todos esses valentes da dita “        renovação” aplaudiram, por exemplo, o fim do financiamento privado de campanha, certo? Todos resolveram acender velas — em linguagem mais rústica: pagar pau — para Luiz Fux e Roberto Barroso.

Adverti centenas de vezes que isso só é possível com voto em lista. Fui ousado e propus: aceitem o voto em lista agora, atrelado ao voto distrital-misto em 2022, com a volta do financiamento privado. Nossa! Parecia que eu tinha resolvido chutar a santa, não é? Resultado: o financiamento privado foi pro diabo; fez-se necessário criar o fundo do financiamento público — afinal, o dinheiro tem de sair de algum lugar… —, e os partidos, na prática, instituíram o voto em lista como tática de sobrevivência.

Fizeram mais do que isso: conseguiram a autorização para juntar ao fundo público o Fundo Partidário, e boa parte dos deputados que já têm mandato vai ter algo em torno de R$ 2,5 milhões para tentar se reeleger. E quem não tem? Pois é…

Esses “renovadores” que tocaram flauta para o Barrosão esperavam o quê? Que o dinheiro fosse ser jogado no colo de neófitos, que não têm base partidária, alguns com existência apenas no mundo virtual? Aqui e ali há um muxoxo: “Não permitem candidaturas independentes”. A “independência” que se pretendia por aqui não existe em nenhum lugar do mundo. O sujeito virá “celebridade” na Internet e quer logo se oferecer ao escrutínio popular, sem partido, sem eira nem beira. Pior: boa parte desses rapazes e moças de vida fácil conta com um senhor que os ajuda cujo nome não ousam dizer. Jorge Amado costumava botar essa gente para ser estrela do Bataclan, não da política.

Convenham: o Ministério Público Eleitoral e a Justiça Eleitoral estão sendo conivente com pré-campanhas que, obviamente, custam dinheiro. Os movimentos que montaram a Escolinha do Professor Raimundo para candidatos caracterizam ou não caracterizam financiamento escamoteado de empresas, hoje proibido pela legislação eleitoral?

Mais grave ainda: boa parte dos que conseguirem fugir do “sistema tradicional” estará incorrendo — aposto a mão direita e a esquerda também — em caixa dois. Ou por outra: pretendem substituir o velho pelo mais velho ainda porque todos os vícios do passado virão cobertos pelo glacê da hipocrisia.

Ah, sim: adverti para isso também. Não porque tenha bola de cristal. Mas porque lido com lógica e com o Fernando Pessoa. Não dou bola para certos pesquisólogos que já têm o resultando antes de entrevistar as pessoas. Quando há as entrevistas, claro…

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