Num instante em que o Supremo começa a tirar de dentro do foro os privilegiados com mandato, o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio, deseja devolver o privilégio a quem já não tem nem mandato nem foro. Ele retirou das mãos do promotor Ricardo Castro o inquérito que apura se Geraldo Alckmin cometeu improbidade administrativa no caso dos R$ 10,3 milhões que a Odebrecht diz ter repassado por baixo da mesa para as campanhas do tucano em 2010 e 2014.
O procurador-geral alega que precisa decidir com quem ficará o inquérito contra Alckmin. O doutor Ricardo se considera o “promotor natural” do caso. Enquanto perdurar a fratura no Ministério Público paulista, ficará anestesiada a investigação contra um candidato à Presidência da República. A única apuração disponível depois que o STJ enviou as acusações contra Alckmin para a Justiça Eleitoral, desviando o candidato da Lava Jato.
O chefe do Ministério Público de São Paulo tem a prerrogativa legal de cuidar dos casos cíveis envolvendo o governador do Estado. Mas Alckmin é ex-governador. Certas decisões são tão inexplicáveis que dispensam explicação. O PSDB governou São Paulo de 1995 até o último dia 6 de abril. Em 23 anos meteu-se em escândalos tão graves quanto mal investigados: Siemens, Alston, Odebrecht… Alckmin e seus companheiros de ninho dizem não ter nada a ver com nada. Mas sem pratos limpos, nada pode ser uma palavra que ultrapassa tudo. É por isso que a sensação de superioridade do tucanato enferrujou.
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