A Petrobras voltou ontem a ser a companhia mais valiosa da bolsa brasileira. Para o país ela nunca deixou de ser a primeira empresa, mas o valor de suas ações, sua lucratividade e sua reputação despencaram em queda livre anos atrás. Esta semana ela anunciou o maior lucro em cinco anos e suas ações tiveram altas expressivas. Pedro Parente diz que a empresa virou a página, mas faz alertas.
Entrevistado ontem no meu programa na GloboNews, Pedro Parente falou desse momento da empresa que preside.
— A Petrobras virou a página da sua pior crise, sem dúvida nenhuma, o que não quer dizer que a gente possa relaxar. Estamos seguindo um planejamento estratégico com muita disciplina. Por outro lado, temos que reconhecer que tem evidentemente o efeito do petróleo subindo. E como ele sobe, pode descer.
Segundo Parente, todo o esforço na empresa é para fazer todos os ajustes operacionais necessários, a renegociação para mudar o perfil da dívida e as melhoras na área de segurança, porque a Petrobras tem que ser lucrativa com o barril a US$ 35 ou a US$ 75.
— Como o preço do petróleo é cíclico a gente faz bem de seguir a sabedoria, as lições da Bíblia. Sete anos de bonança e depois sete anos de tempestade. Vamos durante a bonança nos preparar para a tempestade, fortalecendo a empresa e trabalhando no menor custo possível — disse Parente.
Um dos pilares desta mudança é a não intervenção política. A Petrobras foi atingida por várias tempestades: a corrupção, os investimentos errados impostos à direção executiva, a manipulação de preços de derivados. Que os próximos governantes aprendam as lições, bíblicas e laicas, sobre por que evitar a interferência na gestão.
Neste momento, a dívida foi reduzida, mas ainda está alta, em US$ 81 bilhões. Parente disse que a mudança é principalmente no perfil do endividamento.
— Tínhamos vencimentos entre 2018 e 2020 de quase US$ 50 bilhões. Hoje, o número é próximo a US$ 22 bi. Nossa dívida tem prazo médio de 10 anos. O caixa permite pagar todo o serviço da dívida nos próximos três anos, além de termos crédito imediatamente disponível de US$ 5 bi.
Mesmo com bons números, como o lucro de R$ 6,9 bilhões do primeiro trimestre, e a volta ao pagamento de dividendos, a empresa reduziu investimentos. Ele disse que a gestão está melhorando a eficiência. E lembrou que houve um tempo em que a estatal fez investimentos de centenas de bilhões de dólares e a produção não aumentou.
Perguntei se haveria limite para a nova política de preços, iniciada em 2016, na qual a Petrobras repassa a alta de preços internacionais. Será que, se a cotação disparar, ainda assim a empresa continuará repassando, o governo permitirá tudo isso? O executivo disse que a Petrobras não determina os preços. Eles são o resultado da oscilação da matéria-prima.
— Nunca vi ninguém falar que, quando sobe o preço do trigo, em algum momento alguém vai dizer ao padeiro ‘não suba o pão’. Não é culpa do padeiro.
Pedro explicou que a Petrobras cobra R$ 1,85 pelo litro da gasolina e se ela chega na bomba por três vezes mais é porque existem outros motivos para a alta. O gás de botijão, contudo, tem um repasse mais lento porque foi adotada uma média móvel do preço internacional em 12 meses. Evita, assim, grandes elevações que sempre ocorrem durante o inverno no Hemisfério Norte.
Sobre o petróleo, disse que não sabe se continuará a subir. A alta ocorre também por tensões geopolíticas que podem se dispersar, se a diplomacia tiver sucesso.
O executivo deu um número impressionante na entrevista, sobre o repasse das participações governamentais por causa das altas na cotação do barril e na produção. Estados e municípios produtores foram beneficiados, e também subiram os impostos pagos à União.
— Aproximado, o percentual de aumento, se não me engano, é de 70% este ano em comparação às participações do ano passado. Eu queria aproveitar o momento e dizer aos parlamentares que olhem para este assunto e vejam o retorno que essa indústria dá.
Parente também disse que pode sair em breve o acordo entre o governo e a empresa sobre como explorar o excedente da cessão onerosa. A Petrobras recebeu esses campos do pré-sal da União, acabou encontrando mais petróleo e a discussão é o que cada lado tem a receber para que esse óleo vá a leilão. Mas ele conta que a solução exige uma nova lei, que teria que passar pelo Congresso. E este é um ano de eleições.
O Globo