Processo político, ou antipolítico, em curso é, sim, favorável a Barbosa. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Processo político, ou antipolítico, em curso é, sim, favorável a Barbosa. Por Reinaldo Azevedo

7 de maio de 2018 às 10h26 Por Heron Cid
Joaquim Barbosa: também ele é candidato a santo, como Marina, mas com murro na mesa

Será que é prudente apostar que a inexperiência de Joaquim Barbosa e sua afasia de propostas inviabilizem a sua eleição? Acho que não. Há momentos na história que são sensíveis ao ridículo.

Temos, vamos lá, quatro correntes que se apresentam para a eleição presidencial:
1- extrema-direita circense, com Jair Bolsonaro;
2- centro/centro direita, tendo Geraldo Alckmin com a maior pontuação nas pesquisas e uma miríade de candidatos que atraem 1% do eleitorado;
3- esquerda, liderada por Ciro Gomes quando Lula não está no levantamento (e este não será candidato);
4- discursos incompreensíveis, de que Barbosa e Marina Silva são expressões eloquentes.

Bolsonaro seguirá na sua saga de anacolutos rancorosos. Tem-se mostrado inelástico no primeiro turno. Mas o risco não é pequeno. São tantas as deformações institucionais em curso que há, sim, a possibilidade de o discurso do ódio ir além daquele que alguns consideram ser o limite. A essa altura, não cabe perguntar o que Bolsonaro pode fazer para crescer, mas o que outros farão para que ele cresça, incluindo aí o hospício do lava-jatismo, que capturou também a imprensa. Notem que não escrevo “Lava Jato”, mas “lava-jatismo”, que é sua doença infantil.

A Lava Jato poderia ter feito bem ao Brasil. O lava-jatismo pode leva-lo, e o está levando, ao abismo. Quando até a corte suprema do país decide rasgar a Constituição a partir de uma simples questão de ordem, tudo pode acontecer, incluindo editoriais de apoio de veículos da antes chamada grande imprensa, que fala, cada vez mais, a linguagem da antiga imprensa nanica e militante.

Marina Silva conserva um eleitorado expressivo porque se limita a orar no altar da Lava Jato, sem nada propor nem recusar. Não tinha concorrentes no terreno das soluções mágicas para fazer o suposto resgate moral do país; para, como diz ela, tirá-lo “embate” e colocá-lo no “embate”. Como diz a minha mulher, não há problema sério no país que ela não possa transformar num trocadilho. E, assim, produziu o milésimo centésimo nonagésimo quinto. A concorrência apareceu.

É ela quem pode perder mais com a eventual candidatura de Joaquim Barbosa. Os dois disputam o monopólio da pureza, mas ele está mais adequado à metafísica influente. Junta à sua proclamada retidão o sotaque policialesco, tão ao gosto da hora. Ainda que inflexão de quase santidade que ela inspira atenda ao gosto de muitos que se querem igualmente puros e nem mesmo varam o sinal vermelho, talvez lhe falte a aspereza que a hora exige. Ciro Gomes, do PDT, chegou a identificar essa aspereza com “testosterona”. Bem, a questão não é de hormônio. Respondam depressa: os tempos andam mais propensos ao murro na mesa ou ao “consenso progressivo”, que é aquele método de tomar decisões que faz com que a Rede tenha… dois deputados na Câmara. Tinha quatro. Perdeu 50%.

O processo político, ou antipolítico, em curso é, sim, favorável, a Barbosa. Se grosseria não estivesse a se confundir com sinceridade, Bolsonaro não estaria demonstrando tamanha resiliência. Não existem 15% de eleitores de extrema-direita no Brasil. Ocorre que aquele jeito bruto de ser se mostra como o reverso do cinismo que amplas camadas da população atribuem a todos os políticos. Trata-se de obra inequívoca da Lava Jato, mas está aí. É um dado da realidade. A cada fora que dá, e há uma penca, o pré-candidato é saudado como aquele que não tem papas na língua, que não se deixa conduzir pela hipocrisia. Sua bem azeitada máquina na Internet colabora para isso.

Barbosa jamais terá tal mobilização na rede caso se candidate. Mas também seus erros tenderão, se candidato, a ser confundidos com sinceridade, transparência e honestidade.

RedeTV

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