Investigado sob a suspeita de lavar dinheiro por meio de imóveis em nome de familiares, Michel Temer convocou os jornalistas. Nada de perguntas nem de respostas. Apenas um pronunciamento enfurecido. A Polícia Federal conduz uma perseguição disfarçada de investigação, acusou o presidente, em timbre ácido. O último líder político que disse coisas assim foi Lula. Está preso em Curitiba.
A Lava Jato triturou a Presidência de Dilma, encarcerou o projeto eleitoral de Lula, dissolveu a pose de Aécio, enjaulou a arrogância de Cunha, fez o diabo. E continua tornando impotente quem se achava poderoso. Tempos assim, extraordinários, reclamam a presença no poder de líderes extraordinários, capazes de comandar uma reação. Mas acontece exatamente o oposto.
O Brasil de hoje, marcado por um surto de indecência extraordinário, é melancolicamente comandado por Temer, um presidente ordinário —com duplo sentido, por favor—, incapaz de transmitir uma noção qualquer de ética. Falta-lhe autoridade tanto quanto sobram suspeitas ao seu redor. Temer costuma dizer que o principal símbolo do seu governo é a recuperação econômica. Engano. A oito meses do final, a grande marca da gestão Temer é o vácuo moral.
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