A prisão de Lula nem sequer arranhou o seu prestígio nos levantamentos de segundo turno, segunda aponta a mais recente pesquisa Datafolha. A mudança de patamar no primeiro turno — de 37% para 31% — não pode ser levada em conta porque não dá para comparar os cenários. Já alguns do segundo são os mesmos. E o petista continua a bater com facilidade seus adversários. E, ora vejam, o mesmo se deu com o PT. Continua a ser o partido que tem o maior índice — e com bastante folga — na preferência do eleitor. A quem a legenda deve ser grata? Ora, ao Ministério Público Federal, a Rodrigo Janot em particular e também à direita que ronca e fuça.
A maioria, como o esperado, diz não preferir partido nenhum: são 62%. Escolhem o PT 20% das pessoas ouvidas pelo Datafolha. Em janeiro, eram 19%. Notem que pode ter até havido um discreto aumento da adesão depois da prisão de Lula. Aliás, o número de filiações, com efeito, cresceu. Segundo informou ontem o Painel, da Folha, “desde que o ex-presidente foi detido, há 15 dias, 3.230 pessoas se registraram na legenda —quase 30% do total de 11 mil inscrições contabilizadas desde janeiro.”
As legendas que vêm na sequência estão a uma imensa distância: citam o MDB 4% dos entrevistados; 3%, o PSDB, e 1% o PDT e o PSOL. `Preferência partidária não quer dizer necessariamente voto em A ou B. Mas o número está a indicar o enraizamento da legenda no país. Goste-se ou não, o PT existe. Depois do fim da janela para mudanças partidárias, passou a ter maior bancada na Câmara dos Deputados, embora com perda: 60 parlamentares. Tinha 69 em 2014. Mas o MDB tinha 67 e tem agora 50. O PSDB caiu de 54 para 48.
Auge, fundo do poço e recuperação
Sim, a preferência do eleitorado está muito distante do auge. Em março de 2013, pré-Lava Jato, o partido era citado como o preferido por espantosos 29% dos entrevistados. Em dezembro de 2016, pós-impeachment, esse número caiu para apenas 9%.
Mas aí o MPF começou a sua intensa campanha para demonstrar que todos os partidos são iguais, que ninguém presta, que o mal está mesmo na política, que é preciso recomeçar o país do zero… Bem, na frase deste escriba, já tornada um clássico em coluna da Folha de 17 de fevereiro de 2017, “se todos são iguais, Lula é melhor”. O resultado está aí. Se todos os partidos são iguais, o PT é melhor porque o partido lidera a preferência desde 1999, três anos antes de ter chegado ao poder.
Que os idiotas que se dizem de centro e de direita continuem a aplaudir para procurador maluco dançar. O povo está dando o seu recado. É bem verdade que parte desse aplauso é só coisa de pistoleiros e pistoleiras interessada a buscar os votos de outros idiotas para conseguir se arrumar na vida. O país que se dane.
Leiam um trecho da premonitória coluna de 17 de fevereiro de 2017
A degeneração da Lava Jato, com apoio da direita, ressuscita Lula
Pesquisa CNT/MDA divulgada nesta quarta aponta que Lula (PT) e Marina Silva (Rede) disputariam o segundo turno se a eleição fosse hoje. O petista venceria. Quem me acompanha sabe que não me espanto nem me surpreendo.
A forma que tomou a Lava Jato, levando a grei política ao patíbulo e concedendo penas de três anos a bandidos transformados em delatores nababos, não poderia resultar em coisa melhor. Antevi isso com a bola de cristal da lógica elementar.
Ainda é cedo, claro! Mas uma sociedade diz alguma coisa de si mesma, do processo político e do futuro quando uma média de 30% dos eleitores, mesmo depois de tudo, está com Lula. E poderia ser diferente? A indignação com a corrupção e os desmandos do PT degenerou depressa em moralismo tacanho, em ódio à política, em contínua depredação de procedimentos mesmo os mais corriqueiros da atividade. Se todos são mesmo iguais, então Lula é melhor.
O PT está morto, observei aqui certa feita, “como ente de razão” apenas, como tentativa de um imperativo categórico, como formulador de uma visão de mundo que se queria holística –haveria, nessa perspectiva superada, um modo petista de estar no mundo.
Mas continuam vivas as demandas que o alimentaram nesse tempo. Ainda que o partido morresse como corpo físico, sobraria o espírito, que trata de redenção, não de reforma (como a Lava Jato, diga-se!).
Trata-se da única gesta bem-sucedida que temos do “empoderamento (argh!) do oprimido”. Não é algo que deva ser ignorado, como tem feito a direita xucra.
A esquerda está, sim, combalida. Ocorre que a sobrevivência eleitoral daquilo que Lula representa depende menos das pantomimas da companheirada do que da espantosa combinação de ignorância e voluntarismo de correntes que se alinham à direita.
Algumas falhas de nossa formação se revelam de forma dramática. Temos autoproclamados liberais que se mostram incapazes de defender, num regime democrático, o Estado de Direito. Ao contrário: cedem ao alarido dos que querem enforcar o último deputado com a tripa do último senador. Se, na fantasia de esquerda, uma certa “elite” rapace responde por todos os males do Brasil e dos brasileiros, para essa direita tosca, o inimigo são os “políticos”.
Talvez a Justiça impeça Lula de ser candidato. Se for da lei, cumpra-se. Mas meu rigor não contenta. O tribunal faria, nesse caso, o que boa parte do povo não queria que fosse feito. Só um imbecil se daria por satisfeito.
E, bem, nestes dias em que Constituição, leis, instituições, códigos e normas valem menos do que uma ficha de orelhão, parece razoável que o esquerdista Roberto Barroso tenha cedido à reivindicação de grupos conservadores e decidido, pela via cartorial, sem passar pelo Congresso, mudar as garantias do Foro Especial por Prerrogativa de Função, que se chama, por aí, de “privilegiado”.
O homem é destemido. Acha a vaquejada inconstitucional. Ele se compadece com o rabo da Mimosa. Decidiu que feto até o terceiro mês vale menos do que um rabo –o da Mimosa. E quer legalizar todas as drogas. É o homem-agenda. Com ele, nada de Congresso e voto. Vai tudo no tapetão.
Ah, em tempo: alguém pode dizer que, ruim como é, o governo Temer é que deve ser responsabilizado pela eventual ascensão da esquerda. Discordo. Dado o que herdou e o que conseguiu realizar até agora, o governo é bom. De resto, Lula não está forte porque esquerdista, mas porque populista. Em certa medida, poderia ser Bolsonaro –que disputa o segundo lugar com Marina.
O populismo de direita, associado ao lava-jatismo, é que está minando a credibilidade da atual gestão e ressuscitando a esquerda. Afinal, conservadores que não buscam preservar nem as instituições hão de conservar o quê?
Não sobra nem o juízo.