Eu sei o que escrevo neste blog e falo em toda parte quando membros do MST, o movimento de João Pedro Stédile, fecham estradas e impedem o direito constitucional de ir e vir. Eu os chamo de “fascistoides”.
Eu sei o que escrevo neste blog e falo em toda parte quando o MTST, o movimento de Guilherme Boulos, queimam pneus nas ruas e impedem o direito constitucional de ir e vir. Eu os chamo de “fascistoides”.
Como não sou o tipo de canalha que emprega um peso e duas medidas a depender da ideologia de quem agride a Constituição, não hesito em chamar de “fascistoides” aqueles que resolveram bloquear estradas em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para impedir o livre trânsito dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, na chamada “caravana” pelo Sul do país.
Uma prática autoritária, violenta, intolerante não se torna aceitável porque praticada contra alguém que considero um adversário.
Aplaudir esse tipo de coisa é tarefa para esses porcos e porcas que ficam roncando e fuçando nas redes sociais.
Eis aí o mal a que conduzem o extremismo, a estupidez e a vigarice ideológica.
Sim, os petistas protestaram. E fazem muito bem. Na Universidade Federal de Santa Maria, cenas de selvageria se repetiram, com antipetistas — consta que identificados com Jair Bolsonaro — entrando em confronto com militantes petistas, em especial do MST. Em vez de palavras, paus, pedra, chicote e porrada. Olhem aí o que essa gente quer para o Brasil.
Não! Por aqui, não passarão. Aqui, não receberão sinal verde. Aqui, não contarão com uma miserável palavra de simpatia.
O que se viu lá foi um conflito de boçalidades.
Mas, por óbvio, eu não seria eu se não falasse. Na quinta-feira, dia 8, um grupo de manifestantes do MST bloquearam uma unidade fabril da Riachuelo, em Natal, que pertence ao empresário Flávio Rocha, que tenta viabilizar sua candidatura à Presidência da República. Em vídeo, ele reagiu e, com razão, chamou os agressores de “terroristas” e “vagabundos”. E afirmou que não vai se deixar intimidar.
Miguel Rossetto, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário e próximo do MST, provável candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, estava presente às agressões de que os petistas foram vítimas em Santa Maria. É uma das pessoas que protestaram contra a agressão ao direito constitucional de Lula, Dilma e dos demais petistas presentes à caravana.
É uma pena, no entanto, que nem ele nem algum outro petista tenham protestado contra o bloqueio à unidade do grupo empresarial liderado por Rocha. Quando um movimento ligado ao PT invade propriedades, depreda suas instalações — e isso já aconteceu —, cerceia o direito e ir e vir, e o partido silencia, isso significa que se está escolhendo e endossando um método.
Quando a extrema-direita faz o que faz no Rio Grande do Sul e quando movimentos ditos liberais — que endossaram as justas e corretas palavras de Rocha contra o MST — aplaudem a óbvia agressão à Constituição em Bagé e Santa Maria, não há escapatória: também estes, embora adversários ideológicos dos ditos sem-terra, àqueles se igualam nos métodos.
Tenho aquela que considero ser a melhor releitura daquilo que Maquiavel nunca escreveu, a saber: OS MEIOS QUALIFICAM OS FINS.
E o que Maquiavel nunca escreveu? Que “O fim justifica os meios”. Não! Isso não aparece em “O Príncipe” como um norte moral em momento nenhum. Ele chega a essa conclusão justamente num trecho de viés um tanto crítico ao vulgo, dizendo que este não faz indagações sobre os meios empregados pelo Príncipe para atingir um determinado fim, desde que esse mesmo vulgo aprove o resultado.
Entender que os meios qualificam os fins significa incorporar um conjunto de práticas restritivas à ação política que jamais permitirá que se chegue ao vale-tudo.
Quando deixei as hostes do petismo, há 34 anos, eu o fiz justamente porque considerava, e considero ainda, que a legenda faz a leitura pervertida de Maquiavel — e pouco importa se tem como referência aquilo que o pensador NÃO escreveu, mas que acabou se popularizando.
E, por óbvio, não seria eu a endossar as mesmas práticas, desta feita contra o PT.
A vida não é um filme de Tarantino, diante do qual as pessoas podem roer as unhas de satisfação vendo a justiça a ferro e fogo sendo feita por “bastardos inglórios”, ainda que isso se situe apenas no terreno da imaginação.
O ambiente político brasileiro está intoxicado por pistoleiros morais. Sugiro aos dois lados que leiam “A Nossa Moral e a Deles”, de Trotsky. Não para adotar a lição que lá vai, em todo o seu horror. Mas para constatar que os dois lados dessa peleja usam a truculência adversária para justificar a própria truculência.
Um trecho de Trotsky
Abaixo, vai um trecho do texto de Trotsky. Espertamente, ele apela a uma situação de guerra civil para justificar o horror. Acabou, ora vejam, sendo vítima de sua própria concepção de mundo, não é? Stálin, que mandou matá-lo, pensava a mesma coisa. E usou os mesmos argumentos. No caso, o argumento veio na forma de uma picaretada na cabeça. Primeiro veio um grito de dor. E o último suspiro.
“Na expressão ‘a mentira e coisas piores’, ‘coisas piores’ significam, sem dúvida, violência, assassinato etc., pois, em condições iguais, a violência é pior do que mentir e matar — a forma mais extrema de violência. Desse modo, chegamos à conclusão de que a mentira, a violência e o assassinato são incompatíveis com um ‘movimento socialista sadio’ Qual é, porém, nossa relação com a revolução? A guerra civil é a mais severa de todas as formas de guerra. É impensável não só sem violência contra terceiros, mas também, tendo em vista as técnicas modernas, sem a matança de idosos e crianças. Será preciso lembrar da Espanha? A única resposta que os ‘amigos’ da República Espanhola poderiam dar seria mais ou menos a seguinte: a guerra civil é preferível à escravidão fascista. Mas essa resposta totalmente correta significa apenas que o fim (democracia ou socialismo) justifica, sob certas condições, meios como a violência e o assassinato. Sem falar das mentiras! Sem mentiras a guerra seria tão inimaginável quanto uma máquina sem óleo. Para proteger a sessão das Cortes (lº de fevereiro de 1938) das bombas fascistas, o governo de Barcelona enganou, por várias vezes e deliberadamente, os jornalistas e a própria população. Poderia ter agido de outra maneira? Quem aceita o fim – a vitória sobre Franco – também deve aceitar os meios: a guerra civil com o seu cortejo de horrores e crimes.”
Encerro
Eu tinha 15 anos quando li o texto. Considerei ser um primor de objetividade e realismo. Aos 19, eu me perguntava que estupidez me levara a gostar daquilo. E, como veem, ali vai o Maquiavel pervertido para pervertidos morais. Os de Natal, de Santa Maria, de todo lugar.