João Doria, prefeito de São Paulo, anunciou que quer mesmo renunciar à Prefeitura e disputar o governo do Estado. Era a sua segunda opção. A primeira, a Presidência, enfrentou a resistência passiva e, nesse particular, vitoriosa, do governador Geraldo Alckmin.
As coisas aconteceram à moda Doria: atropelando os adversários — nesse caso, também Alckmin, que não é simpático à candidatura —, mas com aparente ternura. Só de vez em quando ele chama oponentes internos de “derrotados” ou manda que vistam o pijama. Mas volta a sorrir em seguida.
Obviamente o prefeito trabalhou para ser candidato. E muito! Para todos os efeitos, no entanto, ele atende a uma convocação. O pedido de inscrição de seu nome conta com 1.700 assinaturas de um total de 3.600 delegados estaduais. O primeiro round ele já venceu: seus adversários internos queriam que as prévias ficassem para abril, depois do prazo de desincompatibilização. Isso obrigaria o prefeito a renunciar sem saber se seria mesmo o candidato. Agora, não. Se perder as prévias, pode continuar na cadeira.
Se houver prévias, é claro! Os seus aliados e ele próprio já trabalham para que o governador demova da disputa interna ao menos dois dos três postulantes: Floriano Pesaro e Luiz Felipe d’Ávila, que já fez a sua inscrição e diz não abrir mão da disputa interna, marcada para domingo, dia 18. O quarto postulante, José Aníbal, também garante que vai até o fim.
As coisas podem se complicar um tanto. Doria, como se sabe, é filho das prévias. Sem elas, não teria se sagrado candidato. E contou também o apoio de Alckmin. Por que, agora, o esforço para eliminar essa etapa se a turma do ainda prefeito dá a vitória como certa? Porque haverá, necessariamente, escoriações.
Como, para todos os efeitos, Doria não era pré-candidato, ele se negou a participar de eventos com os demais postulantes. No tempo em que durou a disputa interna — surda, mas nada silenciosa — com Alckmin pela vaga para a candidatura à Presidência, a relação com o governador se desgastou. O prefeito articulou o apoio do PSD de Gilberto Kassab não exatamente à revelia do ex-padrinho — que vai gostar de ter o tempo do PSD na disputa presidencial —, mas de modo, vamos dizer, autônomo.
No entorno de Alckmin, as avaliações se dividem. Há quem considere Doria um bom cabo eleitoral, mas há quem acredite que o fenômeno já passou. O peso fora do Estado de São Paulo, hoje, seria irrelevante. E, no Estado, consideram que a postulação tem efeito incerto. Eleitores da cidade podem ficar agastados com o fato de que o prefeito estará, caso seja mesmo o candidato, descumprindo uma palavra solene: a de que permaneceria na Prefeitura por quatro anos. Aquela marca do “não-político”, que ele cultivou durante tanto tempo, se perde. Até porque vai para a disputa com Kassab — convenham: mais político do que este, impossível!
Desde já, o prefeito e seus assessores vendem a ideia de que Doria deixará para o vice, Bruno Covas, com pouquíssima experiência executiva pública ou privada, régua e compasso, de modo que a gestão não mudaria. Todo mundo sabe que isso não existe. Sempre muda. Não quer dizer que seja necessariamente para pior, mas muda.
De saída, é difícil que Bruno consiga ser a maquina de gerar, vamos dizer, unidades informativas — às vezes, “perorativas” — nas redes sociais, dando a impressão de que a cidade é uma gigante sem igual em eficiência.
Há mais: parte do apelo de Doria era, na verdade, rejeição à gestão do petista Fernando Haddad. Agora, esse apelo não estará dado. A esquerda nem mesmo tem um candidato forte para chamar de seu, contra o qual o discurso do ainda prefeito cresce e ganha nitidez. Desde logo, está dada uma dificuldade: o candidato do PSDB, qualquer que seja, terá de pisar em ovos — ou a emenda sai pior do que o soneto — com Márcio França, postulante do PSB e que estará à frente do governo.
E uma coisa é certa: com prévias ou sem prévias, o ambiente no PSDB não é dos mais harmoniosos.
Vamos ver como o paulistano vai receber a decisão, caso Doria seja mesmo o candidato, e que peso isso terá, para o bem e para o mal, no eleitorado paulista.
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