O relógio passou a correr mais rápido contra Lula. A derrota no Superior Tribunal de Justiça aumentou as chances de uma ordem de prisão contra o ex-presidente. Agora ele só pode apelar ao Supremo para tentar se manter fora da cadeia.
O desfecho do caso pode ser questão de dias. Por isso, será cada vez maior a pressão sobre a ministra Cármen Lúcia. A presidente da Corte tem resistido a marcar um novo julgamento sobre a prisão de condenados em segunda instância.
Ela já argumentou que rediscutir o assunto por causa de um réu ilustre significaria “apequenar” o Supremo. Pode ser, mas hoje cada ministro decide sobre o tema de um jeito, o que está longe de engrandecer o tribunal.
A defesa de Lula também cobra o julgamento do pedido de habeas corpus do ex-presidente. O ministro Edson Fachin liberou o caso há quase um mês, mas Cármen não marca data para o julgamento.
A ministra tem reclamado da pressão dos petistas. Na semana passada, senadoras ocuparam seu gabinete para discursar a favor de Lula. Ontem o deputado Wadih Damous subiu o tom, afirmando que “sentar em cima do processo não é papel de presidente do Supremo”.
Cármen poderia terceirizar a encrenca para o plenário, mas tem preferido aguentar as críticas sozinha.
No front lulista, a derrota no STJ aumentou o sentimento de angústia. A discussão sobre candidatura ficou para trás. Ontem os aliados do ex-presidente no Congresso só falavam em encontrar uma fórmula para evitar sua prisão, que parece cada vez mais próxima.
Para consumo externo, os petistas repetem o discurso de que a cadeia pode fortalecer o mito e transformar Lula num novo Mandela. Nada no Brasil é impossível, mas o clima de desespero sugere que eles não acreditam muito no que dizem.
Desde o impeachment de Dilma Rousseff, o PT espera uma insurreição popular que nunca veio. A rua permaneceu vazia nas duas vezes em que Lula foi condenado, em Curitiba e Porto Alegre. Nada indica que agora seria diferente, embora o ex-presidente continue a liderar com folga as pesquisas de opinião.
O Globo