O que quer a esquerda do miolo mole no Rio? Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

O que quer a esquerda do miolo mole no Rio? Por Reinaldo Azevedo

1 de março de 2018 às 09h45 Por Heron Cid
Caetano Veloso, integrante do Coletivo 432

O “coletivo” 342 é uma farsa.

Circula na internet um vídeo produzido por esses valentes, abrigados sob o grande guarda-chuva de equívocos de Caetano Veloso, contra a intervenção decretada pelo governo federal na área de segurança do Rio. Ainda que a reação fosse esperada, já que ali se aninham algumas figuras carimbadas da esquerda festiva carioca, obrigo-me a constatar: a peça atingiu o estado da arte da mentira, do engodo, da trapaça, da má-fé intelectual. Querem saber? Foi essa gente, com sua alienação, com seu discurso mentiroso, com suas generalidades, que ajudou a fazer de Jair Bolsonaro, com sua pregação de extrema direita de fanfarra — mas perigoso ainda assim — um candidato viável. É isto: a cabeça de Zeus pariu Palas Athena, a deusa da sabedoria; a cabeça de Caetano deu à luz Jair Bolsonaro. Os dois sabem como resolver a violência do Rio: Caetano e seus amigos oferecem adjetivos e substantivos abstratos; Bolsonaro quer armar a população. São personagens que só ganham relevância na barbárie.

Antes que avance, uma observação sobre o nome do “coletivo”. Ele se formou quando Rodrigo Janot apresentou a primeira denúncia contra o presidente Michel Temer, na tentativa de golpe liderada pelo então procurador geral da República, com a conivência dos ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia, do STF. Era necessário, então, que dois terços da Câmara — 342 deputados — aceitassem a denúncia para que esta prosperasse, com o consequente afastamento do presidente. Já se conhecem hoje os detalhes da farsa, esta sim,  tramada pelos irmãos Batistas, em conluio com a Procuradoria Geral da República. Tanto é assim que as delações, que já estão suspensas, serão anuladas. Mesmo assim, o grupo mantém o nome porque o que se tem ali é um conluio de petistas e psolistas do Rio, que se reúnem sob os trinados obscurantistas de Caetano. Sem dúvida, note-se adicionalmente, trata-se de um grande cantor e compositor. Mas este texto trata de segurança pública e de política, não de música.

Não esperava outra coisa de algumas pessoas que ali aparecem para expelir tolices e abstrações sobre segurança pública. Afinal, esses patriotas se juntaram, originalmente, contra o impeachment de Dilma, reitere-se. Seria inútil tentar explicar-lhes o que é crime de responsabilidade. Fiquemos com os fatos. Eles queriam Dilma e a inflação acima de 10%. Não querem Temer e a inflação abaixo de 3%. Eles queriam Dilma e a recessão de 3,6%. Não querem Temer e o crescimento que vai chegar perto de 4%. Eles queriam Dilma e os juros de 14,25%. Não querem Temer e os juros de 6,75%. Eles queriam Dilma e o déficit na balança comercial. Não querem Temer e o superávit recorde. Eles queriam Dilma e o desemprego crescente, na casa dos 13 milhões; não querem Temer e o desemprego decrescente. Eles queriam Dilma e o pré-sal paralisado. Não querem Temer e a retomada da exploração. Eles queriam Dilma e o setor elétrico à beira do caos e do apagão. Não querem Temer e a reestruturação da área, que voltou a oferecer segurança aos investidores — e, pois, aos pobres. Eles queriam Dilma e as estatais como cabide de emprego de vagabundos. Não querem Temer e a Lei de Responsabilidade para as empresas públicas e mistas, o que impede a sua ocupação por partidos políticos.

Afinal, Temer, para o PSOL, para o PT e para Caetano Veloso, é o vampirão, é o golpista.

Essa gente toda tinha um plano para você e para “os pretos de tão pobres e pobres de tão pretos”: inflação nas alturas, juros nos cornos da Lula, recessão, desemprego, paralisação da extração do pré-sal, apagão, sem-vergonhice nas estatais…

Lamento as respectivas presenças no vídeo de duas figuras: a do antropólogo Luiz Eduardo Soares e a do sociólogo Ignácio Cano. Soares, que é um homem inteligente, já foi secretário de Segurança Pública no governo de Anthony Garotinho e secretário nacional de Segurança Pública no começo do primeiro mandato de Lula. Foi, na prática, derrubado duas vezes. Ele conhece, pois, de perto as dificuldades da área. Mais do que isso: sabe, no detalhe, o grau de corrupção das Polícias no Rio. Tanto é assim que é coautor do livro “A Elite da Tropa”, que está na origem dos filmes “Tropa de Elite”, I e II.

Soares aponta as condições precárias em que vivem os policiais e dá a entender, sabe-se lá por qual raciocínio torto, que, antes, é preciso resolver esse problema para, então, se preciso, falar em intervenção. Ele deveria explicar, antes de mais nada, por que, nas duas vezes em que lhe foi dado poder, não conseguiu alterar minimamente tais condições. Sua fala tem um apelo adicional, talvez involuntário, de alta octanagem de irresponsabilidade: parece pensada para jogar os policiais do Rio contra a intervenção e contra o Exército. Ele já foi homem de Estado. Conhece os bastidores e sabe que o governador havia perdido o controle sobre a área. Logo, a intervenção deixou de ser uma escolha e passou a ser uma imposição.

Outra presença infeliz é a do sociólogo Ignacio Cano, professor da Universidade Estadual do Rio e “consultor” — uma atividade sempre muito confortável — da área de segurança. Cano foi um dos principais suportes intelectuais das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), implementadas por José Mariano Beltrame. A política de Sérgio Cabral, também para essa área, era uma farsa. Sempre indague: pacificar quem com quem? O doutor faz propostas. Pagar um extra aos policiais para que empreguem seu tempo livre na segurança pública, não fazendo bico privado. Dado o tamanho do problema, chega a ser risível. Ah, sim: ele também propõe dialogar com os líderes da comunidade. Uau! Então era isso que tinha a dizer o grande pensador sobre a área. Chega a ser patético.

A síntese do vídeo poderia ser esta: ou se resolvem, primeiro, todos os problemas sociais, econômicos, culturais, urbanos e salariais do Rio, ou qualquer medida será inútil. Bem… Se e quando tudo isso estiver resolvido, o Rio — e o mundo — não precisará mais nem de governo, não é mesmo?

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