Sou amiga da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) desde muito antes de seu ingresso na política. Sempre foi filha, mãe, amiga, gestora e parlamentar exemplar. Uma mulher de palavra e comprometida com a coisa pública.
Prova disso é o trabalho que exerceu em defesa dos idosos e das mulheres do Rio de Janeiro. Cris, como carinhosamente os amigos a chamam, conquistou postos na vida pública por mérito próprio, o que engrandece as mulheres do PTB e do país e estimula a participação feminina na política brasileira, ainda hoje dominada por homens.
A despeito disso, Cristiane vem recebendo críticas hostis desde que se divulgou nas redes sociais um vídeo em que aparece ao lado de quatro homens sem camisa, em um barco, falando da Justiça do Trabalho.
Sobre esse episódio, ela contou-me o seguinte: “Estávamos em família. As mulheres daqueles homens estavam com seus filhos. Conversávamos sobre as pessoas que foram vítimas de funcionários que usam a justiça trabalhista para extorquir empresários. E eu estou indignada com a situação injusta pela qual passo. A gravação foi um desabafo.”
Como se não bastassem os comentários incivis à sua pessoa, outras agressões vieram. O jornal “O Estado de S. Paulo” afirmou no começo do mês que ela é alvo de inquérito que apura suspeitas de tráfico de drogas e associação para o tráfico durante as eleições de 2010.
Ora, nem havia denúncia. O próprio jornal confirma que o inquérito, aberto em 2010 na Delegacia de Combate às Drogas, só foi para o Ministério Público Federal depois de a reportagem pedir acesso aos autos.
Outra incoerência é o assunto vir à tona somente agora, quase oito anos depois, quando Cristiane foi nomeada ministra do Trabalho pelo presidente Michel Temer.
Já o programa “Fantástico” mostrou um áudio de 2014 de uma reunião com colaboradores comissionados no qual Cristiane afirma que todos iriam para casa se perdessem a eleição.
Pode-se avaliar a questão moral do áudio, gravado de forma ilícita, ou a necessidade de mudanças em nossos costumes da política. Todavia, um fato é evidente: se perder uma eleição, nenhum parlamentar terá condições de preservar os empregos de seus funcionários.
Afinal de contas, o que há de concreto contra Cristiane Brasil? Sua posse como ministra foi suspensapela Justiça, decisão baseada em duas reclamações trabalhistas.
Trata-se de algo insensato, pois isso não inabilita ninguém a ocupar cargo público. O Poder Judiciário desconsidera a Constituição ao sustentar essa ação, interfere na prerrogativa privativa do presidente da República de indicar ministros de Estado. Isso para não falar da demora injustificável para que o caso tenha conclusão.
Cristiane Brasil é vítima de seu próprio desabafo, mas sobretudo dos machistas e moralistas que a sentenciaram nas redes sociais, com o apoio da mídia. Esses juízes tentam excluí-la da vida pública e macular sua imagem.
Faço o seguinte questionamento: fosse um homem, um parlamentar, cercado por quatro mulheres de biquíni, o vídeo teria a mesma repercussão negativa e insultuosa?
O congressista seria caricaturado, chamado de imoral, desrespeitoso? Ou, por ser homem, estaria tudo certo?
Cristiane Brasil tem o respeito e o respaldo dos petebistas, dos congressistas, do governo e de inúmeros brasileiros.
Não aceitaremos que difamem a integridade de alguém que lutou não apenas por maior presença feminina na política mas também contra toda manifestação desagradável e torpe contra a mulher.
A cultura moralista e machista não prevalecerá.
*MARLI IGLESIAS, fundadora do PTB Mulher, exerce hoje o cargo de vice-presidente nacional do movimento