Quem julga a Justiça. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

Quem julga a Justiça. Por Ricardo Noblat

5 de fevereiro de 2018 às 06h32 Por Heron Cid
Supremo Tribunal Federal, em Brasília

De todos, mas de juízes sobretudo, exige-se correção, sensatez e respeito às leis. Onde correção quando muitos deles recebem auxílio moradia apesar de serem proprietários de imóveis nas cidades onde vivem?

(Bom dia, juízes Sérgio Moro e Marcelo Bretas, mas não só.)

Onde sensatez quando impetram ações judiciais para contrariar resoluções do Conselho Nacional de Justiça que deveriam simplesmente obedecer?

(Bom dia, ministra Cármen Lúcia, que por ora preside o Conselho.)

Onde respeito às leis quando driblam aquela que os proíbe de receber além do teto salarial estabelecido pela Constituição? Como podem cobrar respeito e ser respeitados? Como podem merecer confiança?

(Bom dia para pelo menos 17 mil juízes nessa situação.)

A Lava Jato ainda não chegou – e talvez jamais chegue de fato – a investigar a corrupção no Judiciário, mas ela existe porque a toga não é refratária a tentações.

Na semana em que a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, fez um discurso apaixonado em defesa da Justiça, mais de 500 juízes pediram aumento de salários e outros benefícios.

A ministra Carmen Lucia

A ministra Carmen Lucia em sessão plenária do STF (Supremo Tribunal Federal) (Adriano Machado/Reuters)

Juízes por aqui ganham mal? O teto salarial deles supera em mais de 15 vezes o rendimento médio mensal dos demais brasileiros, segundo o jornal El País. Na Europa, só quatro vezes.

Vá mexer com interesses dos juízes, expor seus privilégios, ou censurar seu comportamento. Vá dizer que eles formam uma casta em um país de castas e de muita gente que ganha uma miséria. A casta estrebucha.

(Bom dia, advogada Rosângela Moro, que em defesa do marido escreveu que a imprensa separa o joio do trigo e publica o joio.)

Justiça existe para julgar, estamos de acordo, mas quem a julga?

O lado bom da coisa é que a Justiça está deixando de ser intocável, acima de qualquer suspeita. Perdeu-se o temor reverencial por ela. Antes se murmurava o que hoje se diz aos gritos a seu respeito.

A democracia só tem a ganhar com isso.

Se a lei deve ser para todos, a crítica também. Se do Executivo e do Legislativo se cobra satisfações, por que não do Judiciário?

Por togas transparentes para que pouco ou nada escondam!

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