A mais recente pesquisa de intenção de votos do Datafolha reforça a convicção da esmagadora maioria dos políticos de todas as cores de que vivo ou morto, preso ou solto, candidato ou não, Lula será o protagonista da próxima eleição presidencial. Como foi de todas de 1989 para cá, à exceção da de 2014 quando Dilma preferiu caminhar com as próprias pernas e por pouco não acabou derrotada.
Em 1989 foi assim. Fernando Collor de Melo, o “caçador de marajás”, Leonel Brizola, a besta-fera do regime militar de 64, e Luiz Inácio Lula da Silva, o operário que ameaçava o status quo, prometeram romper com “tudo isso que está aí” – a inflação galopante, a corrupção em alta, um governo inerte, sem rumo. Os três foram os mais votados no primeiro turno.
A corrupção, o fracasso da política econômica e a falta de apoio do Congresso derrubaram Collor à metade do seu mandato. O sucesso do Plano Real no combate à inflação elegeu e reelegeu Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998. A “esperança venceu o medo” em 2002 elegendo Lulinha Paz e Amor quando o Real começava a farrapar. Lula reelegeu-se apesar do mensalão. E elegeu Dilma, seu poste.
Num país onde a renda familiar de 67% da população fica abaixo de três salários mínimos, a Era Lula é lembrada por muitos como de relativa paz, estabilidade e um pouco mais de dinheiro no bolso. O Datafolha perguntou aos entrevistados se a corrupção é tolerável caso venha acompanhada de benefícios sociais. Para pouco mais de 50%, é sim. Não é para 45%. Os demais não souberam responder.
Lula estava no patamar dos 30% das intenções de voto quando foi levado coercitivamente a depor à Lava Jato em março de 2016, e depois ao juiz Sérgio Moro em maio deste ano. Agora, aparece com 36% em todos os cenários de primeiro turno considerados pelo Datafolha. Na simulação de segundo turno, a vantagem dele sobre seus adversários aumentou em quatro pontos percentuais.
Cada processo tem um número. Lula soube transformar os processos a que responde em uma causa – a defesa do perseguido que, se incorreu em má conduta foi em poucas e insignificantes. Impedi-lo de disputar eleições seria um crime contra uma parcela expressiva de brasileiros. É razoável supor que assim pensem os que votam nele, e garantem votar em um eventual candidato por ele indicado.
Sempre haverá a possibilidade de que a Justiça em segunda instância se apresse e confirme a sentença de Moro que condenou Lula. Mas caberão recursos às instâncias seguintes, e essas costumam ser lentas e generosas com políticos poderosos.
A sombra de Lula, ou ele de corpo presente, determinará a sorte da escolha do sucessor de Temer.