A prioridade do eleitor para 2018 é —ou deveria ser— acomodar no Palácio do Planalto um político capaz de compor um governo eticamente sustentável. Uma entrevista de Fernando Henrique Cardoso à Veja dá uma ideia do tamanho do desafio.
“Está faltando organizar um centro democrático, progressista, que olhe para o povo”, disse FHC. O tucano Geraldo Alckmin seria o candidato do meio. Cabe o PMDB nesse centro democrático?, perguntou-se a FHC. E ele: “Por que não?”
Ai, ai, ai. Vamos lá. Por que não? No passado, quando queria humilhar o Congresso, o Executivo fechava-o. A partir de 1985, com a redemocratização, o Executivo passou a comprar o Congresso. No modelo do suborno, o dinheiro não é tudo. Há também as emendas orçamentárias, os cargos públicos.
É um arsenal menos ostensivo do que os tanques dos militares. Mas também tem alto poder de destruição. Rói as arcas do Tesouro Nacional. FHC esgrime um velho argumento: “Pelo nosso sistema eleitoral, você faz alianças ou morre à míngua”. É o mantra da governabilidade, que virou eufemismo para safadeza. Ninguém mais tem o direito de ignorar que uma coligação política com o PMDB e congêneres não é matrimônio, mas patrimônio.
Não há receitas prontas para o sucesso na política. Mas uma coisa parece clara: se o próximo presidente não enviar o PMDB e os valores que ele representa para a oposição não há o menor perigo de o governo dar certo.