O poder é como uma sereia. Encanta, ilude e, tal qual um alucinógeno, provoca a falsa sensação de eternidade. Livrar-se desse entorpecente é desafiador, principalmente quando tudo que a maioria quer é gozá-lo “como se não houvesse amanhã”, para citar o poeta Renato Russo.
Triste sofisma. Como tudo, o poder também passa. Muito mais rápido do que o piscar de um relâmpago. Para quem vive-o equivocadamente, basta os primeiros dias fora dos palácios para sentir o baque. Para quem o exerce sem vaidades, coisa rara admita-se, fica a boa experiência da vitória sobre a perigosa mosca azul.
Roberto Paulino, ex-governador da Paraíba, é um desses. Sujeito simples, desprovido de vaidades, de fala fácil, leva uma vida comum e sem afetações apesar de carregar no currículo o posto de maior autoridade do Estado, exercido por uma soma de fatores e circunstâncias.
Mas aí alguém pode lembrar de pronto que ele está sem mandato e sem cargo público. A postura de Paulino era a mesmo em pleno exercício do mandato de governador, quando o PMDB – piloto do maior grupo político à época (década de 90) – mandava e desmandava na Paraíba.
Os depoimentos são pródigos. Quando assumiu o Governo na renúncia de José Maranhão, Paulino manteve os mesmos hábitos simples. Era encontrado no supermercado fazendo feira, atendia telefones de todos, recebia visitas sem qualquer pompa na Granja Santana e abriu o Palácio para atendimentos: de políticos importantes a entidades de menor vulto.
Um comportamento peculiar, e espontâneo, que em alguma medida colaborou para o crescimento surpreendente de uma campanha (2002) que começou destinada a perder e só não venceu pela força da expressiva maioria devotadamente despejada por Campina Grande no então pop star Cássio Cunha Lima.
Muito desse perfil ficou captado na entrevista de Paulino ontem à noite, no Frente a Frente, da TV Arapuan, conduzida pelo autor do Blog. Com seu jeito bonachão, riu e fez rir. Abriu o coração, contou suas verdades, sem medo de ser feliz, blindado de ressentimentos. Deixou ainda mais evidente sua característica: por maior que rivalidade seja, ele não diz uma palavra contra um adversário que possa constrangê-lo ou impedi-lo no futuro de um singelo aperto de mãos.
Entre as revelações, a decisão de ir ao último debate de TV com Cássio, mesmo com a mulher num leito de UTI no Trauma de João Pessoa. Foi um rompante. Antes de combinar com ele, a assessoria de campanha informou ao público de sua desistência do embate. Ao lado da esposa no Hospital, Paulino – chateado – tomou a iniciativa de ir, contrariando o marketing, os aliados e a lógica.
Perdeu a campanha. Mas perdeu sendo quem é. Originalidade e consciência de efemeridade das supostas glórias humanas que o fazem manter o mesmo sorriso e desprendimento até hoje. Mesmo no ocaso do poder. Um exemplo de quem aprendeu que, do poder, a única coisa que se leva é o bem que se deixa.