Foro privilegiado, começo, meio e... Fim – Heron Cid
Opinião

Foro privilegiado, começo, meio e… Fim

25 de novembro de 2017 às 10h15 Por Heron Cid
Na entrada do STF, um pequeno grupo com uma faixa que diz muito

O foro da prerrogativa de função tem todo o sentido. Na essência, ele deveria proteger os mandatários de censuras ou abusos contra posições, opiniões ou denúncias e autoridades de julgamentos passíveis de pressões locais.

No Brasil, ele foi criado, em tese, para dar uma resposta ao absolutismo e garantir a responsabilização de  ocupantes de altos cargos.

O processualista Frederico Marques dizia que foro por prerrogativa da função não é privilégio odioso, mas elementar precaução para amparar a um só tempo a Justiça e o próprio acusado, visando a que inferiores não julguem superiores, com todos os prejuízos daí decorrentes, diante das influências possíveis.

Victor Nunes, um dos mais aclamados ministros do STF, pregava: “Os tribunais de maior categoria tenham mais isenção para julgar os ocupantes de determinadas funções públicas por sua capacidade de resistir à eventual influência do próprio acusado. A presumida independência do tribunal superior é uma garantia bilateral contra e a favor do acusado”.

Mas, vamos combinar, essa essência foi distorcida ao longo do tempo para servir à intocabilidade, a procrastinação e, quase sempre, a impunidade.

Em artigo, o jurista e professor Miguel Reale Júnior aponta um caminho: “A solução não está, portanto, em eliminar o foro por prerrogativa de função, que seria simplista e arriscada, mesmo porque da decisão caberia recurso de apelação. O mais seguro está em atribuir aos Tribunais Regionais Federais, por meio de Turma Especial, a competência de julgar deputados federais e ministros, segundo o critério do local do crime, sem duplo grau de jurisdição”.

Uma saída alternativa do tipo nem tanto ao mar e nem tanto à terra.

Na Câmara, a proposta que acaba a prerrogativa avança, enquanto o STF aprecia sua fundamentação com pedido de vista do ministro Dias Toffoli.

Na Comissão de Constituição e Justiça, o relator da matéria é um paraibano, o democrata Efraim Filho, favorável, como setores majoritários da sociedade, à extinção, nos moldes atuais.

O debate é quente, mas deve ser decidido com frieza, racionalidade e bom senso.

O foro privilegiado deve acabar. Ponto.

E não apenas para dar uma resposta ao eco das ruas. É, antes de tudo, uma saída pedagógica para criar novos paradigmas de igualdade e Justiça num Brasil em que ser uma autoridade já é, por si só, sinônimo de sobeja superioridade e privilégio. Menos um, por favor.

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