Escrevi neste espaço, na semana passada, que o presidente Michel Temer segue sendo, entre as forças do chamado centro político, a única liderança com uma agenda clara. O PT e seus satélites esboçam a sua, mas à esquerda. E, como se nota, seu discurso é o avesso da óbvia modernização da economia empreendida pelo presidente.
Foi inevitável que me fizessem a pergunta: “Você acha que Temer será o candidato do PMDB em 2018?”
Não tenho bola de cristal. Levo em conta, sim, como todo jornalista, o que os políticos dizem a mim e pelos corredores, mas é o fator que menos interfere nos meus prognósticos. Prefiro a literatura, entre outros saberes. Tinha, por exemplo, a certeza, mesmo quando parecia inevitável, que João Doria (PSDB) não concorreria à Presidência. E quem me oferecia essa garantia? A mitologia grega e Mary Shelley, a autora de “Frankestein”.
Não por acaso, o clássico da revolta da criatura contra o criador tem um subtítulo ou título alternativo: “O Moderno Prometeu”.
Em casos assim, consultem os mitos, a disputa é sempre sangrenta. E eu não percebia sinais de uma batalha cruenta no tucanato de São Paulo. “E agora? Doria sai para o governo do Estado?” A escolha será de Geraldo Alckmin e depende da resposta a uma única pergunta: a candidatura do prefeito ao Bandeirantes ajuda ou atrapalha o projeto presidencial do governador?
Eu recomendaria cuidado a Doria e aos tucanos. O rebaixamento da ambição, e estamos no terreno da psicologia social, pode ser visto como vício, não como virtude: “Esse topa qualquer coisa se for para deixar a prefeitura”. Cumprir o prometido está com viés de alta na política.
“Mas Temer será o candidato do PMDB?” Evoco aqui a rejeição da natureza ao vácuo? Chamo Newton, aquele papo de ação e reação?
Quando parte do PSDB ensaiou a sua debandada, com praticamente metade da bancada votando para derrubar o presidente (e que não se tente dizer que aquilo foi outra coisa), o que se fazia ali era fragmentar ainda mais o centro político, já devastado por lava-jatices.
Se os tucanos estavam agindo por cálculo, seria preciso ter a certeza razoável de que poderiam depois liderar as forças dispersas. E, hoje ao menos, não podem.
A partir dali, qualquer que fosse o destino do PMDB, o maior partido do país, parecia-me certo —e deixei isso claro em textos e nos comentários em rádio e TV— que ele não seria mero caudatário daquela legenda que o atraiçoara.
Convenhamos: uma coisa é abandonar a base do governo depois de vencidas as denúncias; outra, distinta, é fazer da CCJ e do plenário da Câmara campos de batalha quando a cabeça do presidente está em jogo, mormente depois que vieram a público as falcatruas da Lava Jato que resultaram nas duas peças patéticas de Rodrigo Janot, que vitimaram também os tucanos. Lição das guerras e da literatura existencialista: só os mortos não têm alternativa.
Temer, obviamente, é candidato. E nem por isso terá de fugir da reforma da Previdência. Pelo contrário. Lutar por ela, curiosamente, pode fortalecê-lo. Já o PSDB… tucanou! Diz apoiar a proposta, mas sem fechar questão. E a resistência vem dos chamados “cabeças pretas”, que se querem a ala jovem e moderna do partido…
Como desdobramentos da Lava Jato, temos um centro político calcinado, uma extrema-direita assanhada e uma esquerda que voltou ao jogo eleitoral e seria hoje favorita. E, ainda assim, há muita gente batendo palma para maluco dançar, pedindo bis.
Anotem aí: vence essa disputa —ou, quando menos, enfrenta Lula ou um ungido seu no segundo turno— quem tiver condições de reorganizar esse centro que Rodrigo Janot e seus aloprados mandaram pelos ares. Insisto: trata-se de “re-unir”, não de dividir. Para o bem do Brasil, é claro! A menos que você goste da ideia de um embate final entre PT e Bolsonaro.
A propósito: parece que Luciano Huck desistiu da aventura. É saudável que reflua a onda contra a política. Até porque o Brasil, creiam, só não foi para o buraco por causa dela… a política!