Com a entrevista que concedeu à VEJA, publicada neste fim de semana, o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, sepultou qualquer dúvida que pudesse haver sobre sua disposição de concorrer à vaga do presidente Michel Temer na eleição do próximo ano.
“O senhor tem consciência de que é um presidenciável?” – perguntou a revista. Meirelles respondeu: “Sim, sou presidenciável. E emendou: “Tenho por característica pessoal ser bem pé no chão. Dificilmente vou fazer alguma coisa baseado no entusiasmo”.
Poderia ter dito que presidenciável é aquele que todos apontam como tal. Ou então que não deseja ser candidato, embora muitos digam que poderá ser. Mas, não. Assumiu a condição de aspirante a candidato a presidente da República. E empurrou qualquer definição a respeito para mais adiante.
Natural. Lula diz que é candidato, primeiro, para escapar de ser condenado na segunda instância da Justiça. Segundo porque, se escapar, será mesmo candidato. O PT não dispõe de melhor nome do que o dele. Bolsonaro nega com medo de ser acusado de fazer campanha antes do tempo.
Ciro Gomes diz que é candidato porque quer ser, mas não está certo de que será. Vai depender de Lula ser ou não ser, e de atrair apoios à esquerda se Lula não for. Marina Silva nada diz porque ainda não sabe se de fato quer ser. João Doria que quer, perdeu o lugar para Geraldo Alckmin.
Meirelles achou que o momento seria este para avisar que não fugirá da raia, se raia houver para que ele corra. Seu desejo de governar o país vem de longe. Lula tentou fazê-lo vice de Dilma em 2010, mas Meirelles recusou o convite. Quer mesmo é a faixa que Temer não usa por recato.
Seu trunfo? A recuperação da economia, que salvou Temer de duas denúncias de corrupção. “O campo é favorável (…) para o que eu chamo de um candidato reformista no sentido de alguém que toque as reformas e a modernização da economia brasileira”, argumenta o ministro.
Quanto ao fato de ser pouco conhecido entre os eleitores, Meirelles não vê problema: “Não tenho essa preocupação de a candidatura não ir para frente. Acho que eleição você disputa para ganhar ou perder. O Lula tinha perdido três eleições antes de ganhar. Isso não foi demérito.”
A entrevista à VEJA serviu também para que Meirelles se antecipasse a futuros ataques sobre suas ligações com o Grupo J&S. Montou para o grupo um banco digital. Acreditou que seria um bom projeto – e disse que foi. Quanto à arapuca que o J&S se meteu, nada teve a ver com isso.
A próxima campanha será pautada pela política social, crê o ministro. Que trai sua vontade de disputá-la ao dizer: “Estou preparado para enfrentar o discurso populista do PT. Diria até que estou acostumado”, pois já teve embates com o PT quando presidiu o Banco Central no governo Lula.
E dá sua receita: “O que resolve a questão social é a criação de emprego. Desemprego elevado, com 13 milhões de pessoas na rua, como o governo anterior deixou, não há política social que resolva. (…) “O tema da campanha vai ser por aí, independentemente de quem seja o candidato”.
A entrada em cena da candidatura de Meirelles reforça as chances de a centro-direita vir a dispor de dois nomes fortes para concorrer à sucessão de Temer – Meirelles pelo PSD, com o possível apoio de parte do PMDB, e Alckmin pelo PSDB, apoiado também pelo DEM, PPS e PSB. A ver.