Se me pedirem para dar conselhos financeiros a Luciano Huck, nada tenho a lhe dizer. Nunca ensino gente mais rica do que eu a ficar… rico! Mas posso lhe expor duas ou três coisas que sei sobre Godard e sobre política. Num caso, sempre teremos Paris. No outro, não.
Luciano candidato à Presidência é o caminho mais curto para um plebiscito de resultado certo e para a volta da esquerda ao poder. “Endoidou, Reinaldo?” Não! Perguntaram isso a Cassandra antes de meterem Troia adentro um presente de grego. Eu apenas ajudo Luciano a ajudar o Brasil.
Se ele disputar a Presidência, os eleitores vão ser convidados a dizer “sim” ou “não” à TV Globo. E vencerá o “não”, como já vence hoje.
Ainda que o capeta esteja do outro lado. “Ajuda Luciano”.
Há três dados de realidade a levar em conta para 2018: 1) a esquerda é mais coesa e leal (entre os seus, claro!) do que os adversários; 2) os liberais de verdade se contam na mão de menos dedos de Lula; 3) o discurso antipetista mais visível aderiu, com impressionante ligeireza, a um reacionarismo abjeto.
Prefere caçar tarados a se dedicar à reforma da Previdência ou à privatização da Petrobras. Lixo.
Lula não será candidato. O TRF-4 vai condená-lo. Já escrevi que será sem provas. Os pares de toga de Sergio Moro não deixariam na mão o seu “jedi”. Pouco importa. Candidato ou não, preso ou não (e, nesse caso, seria pior), a ressurreição do petista, como antevi nesta coluna no dia 17 de fevereiro, já aconteceu.
Não sendo ele próprio o nome do PT, o Datafolha aponta que o líder petista transfere tal número de votos que o seu ungido, dada a fragmentação do terreno antipetista, disputaria o segundo turno. Assim, o que temos de certo? Lula hoje seria eleito se disputasse. O que temos de provável? O nome que indicasse iria para a etapa final. Mas contra quem? Bem, aí não há nem certo nem provável. Só o imenso mar da incerteza. Isso, por si, atesta a qualidade do trabalho de Rodrigo Janot, de seus valentes e da direita xucra.
Outro ente metafísico foi ressuscitado, além de Lula. Atende pelo nome de “Ozmercádus”. Esse tal se entusiasmava com João Doria. A candidatura virou farinata. Os que apostarem no PSDB devem entrar na fila do beija-mão de Geraldo Alckmin. Não vejo razão para Jair Bolsonaro desistir de suas imposturas. À diferença de Ciro Gomes, um postulante possível, penso que a clorofila de Marina Silva comporá com a testosterona retórica da “macharia”. Coloquem, então, Luciano nessa glossolalia de 2018.
A fragmentação no terreno do antipetismo seria de tal ordem que um engenheiro celestial —ou infernal— de esquerda não conseguiria pensar em nada melhor para seus propósitos. E é nesse ponto que chego ao “é da coisa”. Luciano, o Tiririca dos descolados, teria grande chance de disputar o segundo turno com o candidato de Lula.
Seria o nome mais derrotável.
Isso vai contra o senso comum? Paguem para ver. Não teríamos, reitero, uma eleição, mas um plebiscito. Luciano, que me parece ser uma boa pessoa e um empresário capaz, seria massacrado pela pergunta: “Você aceita ser governado pela Globo?” O “não” venceria com folga, ainda que a questão não fosse exatamente verdadeira.
Notem que Luciano já é refém, ainda que involuntário, de “Ozmercádus”, como Doria foi um dia. É esse ente quem diz: “Precisamos de alguém para enfrentar Lula ou o ungido de Lula”. Ou, como afirmou um desses gênios com os dois pés no chão e as duas mãos também, só ele poderia fazer o povão aderir à reforma da Previdência. O raciocínio embute a tese mentirosa de que a dita-cuja seria ruim para os pobres, mas que o apresentador poderia trapaceá-los, fazendo parecer coisa boa.
É a má consciência que aquece esse caldeirão. “Ozmercádus” quer fazer de Luciano o nome palatável do medo que tem dos pobres.
“Ajuda Luciano”.