Se dependesse do senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB e um dos mais poderosos nomes do governo Temer, “a sangria” provocada pela Lava Jato no meio político e empresarial já teria sido estancada há muito tempo. Desde, pelo menos, o início de 2015 quando conversou por telefone com Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que gravou seu desabafo.
Embora com atraso, está em curso a mais nova tentativa de estancar a sangria. E até aqui, pelo menos, ela avança com sucesso. O cerco à Lava Jato está se fechando com a colaboração do governo, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Se não for revertido, a mais bem-sucedida operação de combate à corrupção da história do Brasil irá simplesmente para o brejo.
Depois de ter sepultado a primeira denúncia de corrupção contra o presidente Michel Temer, o governo está pronto para sepultar a segunda. Pagou caro pelo enterro da primeira, distribuindo cargos, verbas e outras sinecuras com partidos e deputados acostumados a tirar vantagem de tudo. Pagará mais caro pelo enterro da segunda. Adeus reforma da Previdência Social!
O Senado livrou um dos seus filhos mais ilustres, Aécio Neves (PSDB-MG), da punição que lhe foi imposta pela Primeira Turma do STF. Devolveu-lhe o mandato suspenso. E a livre circulação à noite. Aécio foi salvo pelo voto nada constrangido de algumas dezenas de senadores às voltas com um monte de processos. Suspeitos de crimes uniram-se para se proteger. Natural.
O STF protagonizou a patacoada de abdicar de uma de suas funções a pretexto de evitar a eclosão de uma nova crise. Não mais será dele a última palavra quando se tratar da punição de um parlamentar, mas sim do parlamento – Câmara dos Deputados, Senado, assembleias legislativas e câmaras de vereadores. Políticos, unidos, jamais serão vencidos!
Em breve, o STF desfechará mais um duro golpe na Lava Jato, ao recuar da decisão de que condenado em segunda instância da Justiça poderá ser preso de imediato. Caberá à terceira instância autorizar ou não a prisão. Não é nada, não é nada, mas é por isso que o privilégio de só ser julgado pelo STF dificilmente será revisto. Processos ali costumam prescrever. As condenações são escassas.
Se necessário, o Congresso votará novas leis para que algo parecido com a Lava Jato não se repita jamais. Não sentirá o mínimo pingo de vergonha por proceder assim. É o Brasil velho que esperneia, estrebucha e resiste ainda cheio de energia ao nascimento do novo.
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