Não é Aécio que estará em causa, mas um Poder. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Não é Aécio que estará em causa, mas um Poder. Por Reinaldo Azevedo

17 de outubro de 2017 às 10h40 Por Heron Cid
Aécio Neves, senador do PSDB, delatado pelo Grupo JBS

Quero chamar a atenção de vocês para o absurdo que está em curso. Poderia entrar no pega-pra-capar que hoje vigora no Brasil e que conduz o país para o abismo político, mas não vou. Aqueles que votarem pelo afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) estarão concordando com a imposição de uma pena a quem nem mesmo ainda é réu. Assim, não lhe foi dada a chance de defesa. É um escárnio. Então a Casa pode conviver com uma ré, como Gleisi Hoffmann (PR), que preside o PT, mas não com quem ainda nem réu é?

No domingo, Elio Gaspari criticou, em sua coluna na Folha, a atuação das patrulhas e lembrou o caso de Luiz Concillier, que se matou. Ele era reitor da Universidade Federal de Santa Catarina e foi acusado de desvio de dinheiro público. O colunista destacou que foi preso sem ter sido nem ouvido antes. Bem, quantos estão nessa situação? Aécio pode, na prática, ter cassado o seu mandato sem que tenha tido a chance de se defender.

Ora, os que se opõem a ele e o querem fora da Casa têm, desde sempre, a chance de resolver a coisa internamente, não? Que o levem, então, ao Conselho de Ética. Nesse caso, se a denúncia for aceita, ele terá ao menos o direito de fazer a sua defesa. Ocorre que, do ponto de vista institucional, vivemos uma quadra miserável de nossa história.

Vejo, por exemplo, o caso da senadora Ana Amélia (PP-RS). Aqui e ali, é tida como integrante dos quadros, vamos dizer, conservadores da política brasileira. Que diabo de conservadorismo é esse que recusa a um de seus pares o direito de defesa? A senadora fez saber a todos que adiou uma viagem à Itália só para participar da sessão e votar em favor da punição.

E o PT? Os companheiros tiveram, inicialmente, uma posição correta. Mas aí as suas milícias ficaram com sede de sangue. Acham um absurdo que se possa condenar Lula num julgamento — e eu mesmo já apontei as múltiplas vezes em que acho que teve seus direitos violados —, mas pedem a cabeça de Aécio quem nem julgado foi ainda. Direitas e esquerdas no Brasil se estreitam num abraço insano. Todas elas jogando no lixo as garantias do regime democrático.

Se o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, decidir pelo voto aberto, será mesmo que isso é assim tão ruim para o tucano? Bem, meus caros, lembro que são 29 os senadores investigados. Além de Aécio, há mais 28. Os doutores vão decidir se põem uma corda no próprio pescoço. E convém lembrar que outras operações do MPF e da PF virão por aí.

Se o afastamento de Aécio for referendado pelo Senado, não duvidem: estará criado um precedente. E atrás virá uma fila. Não custa lembrar que a trinca que decidiu a punição ao senador — Roberto Barroso, Luiz Fux e Rosa Weber — deu-se o direito de ir além do que pediu a PGR e impôs, de ofício, ao tucano o recolhimento noturno.

Os que votarem pelo afastamento de Aécio estarão jogando no lixo as próprias prerrogativas. E não! Não estou asseverando a inocência do senador. Estou apenas cobrando o devido processo legal.

Não se enganem: não é o senador Aécio Neves que está em causa, mas um Poder da República.

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