O ataque de Maia a advogado é covardia. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

O ataque de Maia a advogado é covardia. Por Reinaldo Azevedo

16 de outubro de 2017 às 09h24 Por Heron Cid

O ataque de Maia a advogado é covardia. Por Reinaldo Azevedo

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passou a exercer um papel detestável na política desde que decidiu usar o peso do seu cargo para tentar turbinar o DEM, partido que, justiça se faça, colaborou para quase destroçar. Assim que se viu reeleito para o comando da Casa (contra a Constituição e o Regimento Interno), depois de cumprir um pedaço do período que cabia a Eduardo Cunha, assoberbou-se no grande Varão de Plutarco da República. Sagrou-se vitorioso contra Rogério Rosso (PSD-DF), também da base aliada. E isso só aconteceu porque contou com a ajuda do governo Temer! Amigos próximos me disseram então: “Ah, melhor ele do que Rosso, ligado ao Centrão!” discordei. E comentei com jornalistas: “Ele tem vocação para se voltar contra aliados da véspera”. Retomo esse ponto mais tarde.

Na sexta, como sabem, a Folha Online divulgou o conteúdo de vídeos da delação de Lúcio Funaro. O que há de relevante lá, falso ou verdadeiro, que não esteja na denúncia? Nada! O que há de novo para quem leu aquela porcaria redigida por Rodrigo Janot? Também nada. Mas é evidente que a fala do bandido, no que parece ser um ato de contrição, serve para armar os espíritos contra os acusados — no caso, o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência). Aliás, o ex-deputado Eduardo Cunha também apanha bastante. É o fim da picada. Janot, como sabem, havia aberto uma concorrência pública entre os dois para saber quem mais atacaria Temer. Funaro ganhou. E, para escândalo da decência em delações, diz ter ouvido de Cunha todas as acusações que faz contra Temer. Entenderam? Quem confere, digamos, “força” a seu depoimento é aquele a quem derrotou no campeonato indecente de que o ex-procurador-geral foi juiz. É asqueroso. Isso, por si, já fala um tanto sobre a seriedade do procedimento.

Mas voltemos a Maia. Os vídeos divulgados pela Folha estavam no site da Câmara. Ninguém sabia. Nem a imprensa. O próprio jornal, na prática, informa que sua fonte é outra. Lê-se, por exemplo, na edição desta segunda, que “as gravações também foram disponibilizadas no site da Câmara”. Eduardo Carnelós, advogado de Temer, um criminalista respeitado, divulgou, então, uma nota no sábado chamando de “criminoso” o que considerou “vazamento”. E por quê? Ora, segundo o gabinete o ministro Edson Fachin, tais depoimentos estão sob sigilo.

Vai aqui um testemunho. Liguei para Carnelós na sexta:
— A quem o senhor atribui o vazamento?

A resposta que me deu está praticamente resumida em sua primeira nota. Asseguro, meus caros: Carnelós não tocou nem remotamente no nome de Rodrigo Maia. Até porque, reitere-se: ninguém sabia que o site da Câmara havia tornado disponível material sigiloso. Assim, quando o advogado emitiu a sua nota de repúdio, o alvo não era Maia. Leiam, a propósito, a nota da defesa de Temer:
O vazamento de vídeos com depoimento prestado há quase dois meses pelo delator Lúcio Funaro constitui mais um abjeto golpe ao Estado Democrático de Direito. Tem o claro propósito de causar estardalhaço com a divulgação pela mídia como forma de constranger parlamentares que, na CCJC da Câmara dos Deputados, votarão no dia 18 o muito bem fundamentado parecer do relator, deputado Bonifácio de Andrada, cuja conclusão é pela rejeição ao pedido de autorização para dar sequência à denúncia apresentada contra o Presidente Michel Temer pelo ex-Procurador-Geral da República.
É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no País, por meio da instauração de ação penal para a qual não há justa causa. Só isso explica essa divulgação, ao final de uma semana em que a denúncia formulada pelo ex-Chefe do MPF foi reduzida a pó pelo parecer do deputado Bonifácio de Andrada.
Autoridades que têm o dever de respeitar o ordenamento jurídico não deveriam permitir ou promover o vazamento de material protegido por sigilo. É igualmente inaceitável que a imprensa dê publicidade espetaculosa à palavra de notório criminoso, que venceu a indecente licitação realizada pelo ex-PGR para ser delator, apenas pela manifesta disposição de atacar o Presidente da República.
As afirmações do desqualificado delator não passam de acusações vazias, sem fundamento em nenhum elemento de prova ou indiciário, e baseadas no que ele diz ter ouvido do ex-deputado Eduardo Cunha, que já o desmentiu e o fez de forma inequívoca, assegurando nunca ter feito tais afirmações. Assim como o fizeram todos os demais mencionados pelo delator em sua mentirosa história, que lhe serviu para a obtenção de prêmio.

A reação
Ocorre que Maia resolveu ser usuário da moral do lobo quando quer comer o cordeirinho. Acusa o pobrezinho de turvar a sua água, embora o lanoso beba rio abaixo. Vencido pelos argumentos da futura vítima, o lobo o come mesmo assim. O deputado não precisa de motivos para atacar Temer. Ele vive em busca de pretextos. Como esquecer a entrevista que concedeu no último dia de sua interinidade acusando o presidente de trair compromissos?

Saiu vociferando contra um profissional sério, que, objetivamente, não procurou atingi-lo. Chamou-se de “incompetente”. Pediu a sua cabeça. À Folha, Maia dirigiu uma ameaça ao presidente da República, três dias antes da votação da denúncia na CCJ:
Incompetência é pouco pra justificar as agressões do advogado. A defesa do presidente recebeu todos os documentos. Nunca imaginei ser agredido pelo advogado do presidente Temer. Depois de tudo que eu fiz, essa agressão não faz sentido. Daqui para frente vou, exclusivamente, cumprir meu papel institucional, presidir a sessão. Ser tratado como criminoso é muito difícil.

É mentira! Não foi agredido por ninguém. Também não foi chamado de criminoso. Pior. Voltou a posar de grande herói porque, sugeriu, se tivesse abandonado Temer na primeira denúncia, o presidente teria caído. Já falou isso umas 300 vezes. Vive repetindo isso por aí. Ademais, é uma verdade pela metade. Maia ensaiou, sim, aderir ao golpe. Recuou quando viu que não teria sustentação. Assistiu, em silêncio, até à publicação de seu futuro ministério. Já afirmei aqui, e vocês sabem. Ele tem ciência de que a denúncia dificilmente passará pela Câmara. Seu esforço é para fabricar um resultado pior nesta jornada.

O advogado do presidente divulgou uma segunda nota. À diferença do que diz a imprensa, ele não se retrata. Porque ninguém se retrata do que não fez. Carnelós apenas diz a verdade. Leiam.
Tendo em vista as especulações surgidas após a divulgação de minha nota ontem, esclareço que:
No dia 25 de setembro deste ano, requeremos ao Ministro Fachin acesso aos autos do inquérito 4327, bem como a todos os anexos que o compõem, inclusive delação de Lúcio Funaro e os termos de declarações que a integram. S. Ex.ª deferiu nosso pedido, mas limitou o acesso à delação à parte dela que dissesse respeito ao Presidente da República.
Quando divulguei nota ontem, referindo-me a vazamento que qualifiquei como criminoso, eu desconhecia que os vídeos com os depoimentos de Funaro estavam disponíveis na página da Câmara dos Deputados. Aliás, considerando os termos da decisão do Ministro Fachin, eu não poderia supor que os vídeos tivessem sido tornados públicos. Somente fiquei sabendo disso por meio de matéria televisiva levada ao ar ontem.
Jamais pretendi imputar ao Presidente da Câmara dos Deputados a prática de ilegalidade, muito menos crime, e hoje constatei que o ofício encaminhado a S. Ex.ª pela Presidente do STF, com cópia da denúncia e dos anexos que a acompanham, indicou serem sigilosos apenas autos de um dos anexos, sem se referir aos depoimentos do delator, que também deveriam ser tratados como sigilosos, segundo o entendimento do Ministro Fachin, em consonância com o que tem decidido o Supremo Tribunal.
Reitero que a divulgação daqueles vídeos pela imprensa causa prejuízos ao Presidente da República. Não se pode admitir o uso da palavra do confesso criminoso para influenciar os membros da Câmara, que votarão na CCJC o muito bem fundamentado parecer do deputado Bonifácio de Andrada, cuja conclusão é pela rejeição à solicitação de autorização para processar o presidente Temer.

Retomo
Para Maia, isso ainda é pouco. Não sei o que ele quer, mas a sua fala, hoje, é a de um chantagista, que investe na crise. Se acha que, assim, se qualifica para voos mais altos, que fique claro: algumas figuras relevantes da cena política e econômica que o viam com bons olhos passaram a considerá-lo ciclotímico e imprevisível, características sempre ruins para um político, especialmente para alguém cuja ambição engordou de forma despropositada nos últimos tempos.

Não! Carnelós não é incompetente, mas a reação de Maia é covarde. Tem a covardia do lobo da fábula. Ele sabe que faz uma falsa imputação a quem nada lhes fez de mal para ter pretexto para levar adiante a sua agenda — seja ela qual for.

Não tenho dúvida de que Maia anda a receber maus conselhos. Deveria trocar seus convivas de jantar. Alguns ao menos. Os que andam a lustrar suas ambições já fizeram estadistas como Sérgio Cabral…

De resto, aqui se diz tudo, não? Em 2007, Jorge Bornhausen o fez presidente do PFL, num processo de renovação. Não passou muito tempo, e Maia estava atuando — alguns diriam “conspirando” — contra Bornhausen. Presidia o DEM, em 2010, quando José Serra disputou a Presidência da República com um vice de seu partido, imposto por ele. Jornalistas não precisavam se esforçar para colher de Maia aspas contra a candidatura que também era de seu partido. Em 2012, juntou-se com Anthony Garotinho para disputar a Prefeitura do Rio. Consumado o desastre — ficou com 3% dos votos válidos —, saiu atirando, em seguida, contra o aliado de véspera. Foi braço direito de Eduardo Cunha quando este exerceu a presidência da Câmara; era o seu “homem” na Casa. Esteve entre os primeiros que voltou as costas ao antigo comandante quando este caiu em desgraça. E, por óbvio, dependeu do apoio do presidente Michel Temer para ser reeleito presidente da Câmara. E, vamos convir, põe a faca do pescoço do aliado como não faria um membro do satanizado “Centrão”.

Vai ver leva a sério uma frase atribuída a Charles de Gaulle: “O primeiro dever do estadista é a traição”. Maia trai sem ser estadista.

Mas, ora vejam!, se querem um Rodrigo Maia a falar como se estadista fosse, um fiscalista contumaz e um homem severíssimo com as contas públicas, coloquem-no para dar palestra a representantes do setor financeiro. Aí ele vira o candidato dos sonhos… Mas só dos operadores de ponta de mesa. Quem já está no centro das decisões reconhece algo de, como direi?, “fake”.

Afinal, não custa lembrar, o Rodrigo Maia que aí está desertou das hostes de Cunha para o flerte, como é sabido, com as esquerdas na Câmara, que têm nele, e com razão, um aliado.

Maia deve desculpas ao advogado Eduardo Carnelós. O segundo homem da República não tem o direito de usar a força do seu cargo para demonizar um profissional sério, que nem remotamente o ofendeu.

De resto, a publicação dos vídeos no site da Câmara, deputado, fere a decisão do ministro-relator. Se a presidente do STF, Cármen Lúcia, fez bobagem, dirija a ela seu descontentamento. Mas essa é a hipótese benigna, certo? Afinal, ela parte do princípio de que o senhor estava procurando apenas ser justo na relação com o cordeiro e não sagaz.

Não sei se me entendeu.

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