Cego em tiroteio não parece tão perdido quanto está Luiz Fernando Pezão (PMDB), governador do Rio, denunciado e cassado por corrupção, que ainda consegue segurar-se no cargo graças a uma decisão judicial temporária. Comparada com a dele, a situação do presidente Michel Temer é para lá de segura, embora igualmente desconfortável.
Depois de três dias de silêncio, Pezão reapareceu para avisar aos cariocas: foi ele que desautorizou qualquer ação policial para sustar a mais recente batalha travada por traficantes de drogas que resultou no último domingo em quatro mortes na favela da Rocinha. E assim procedeu para “preservar a vida de inocentes”. De resto, domingo era dia do Rock In Rio.
Por ser dia de rock, e ainda mais domingo de muito movimento nas ruas, se a polícia tivesse agido “seria uma guerra onde morreriam inocentes”, segundo Pezão. Quer dizer: doravante, se bandidos trocarem tiros pondo em risco a vida dos que moram em favelas, Pezão estará pronto para orientar a polícia a não se meter. Só assim morrerá menos gente.
Pezão não disse se a polícia também permanecerá inerte caso traficantes desçam dos morros e troquem tiros no asfalto da Zona Sul da cidade onde ele e os aquinhoados pela sorte ainda conseguem viver. É verdade que a vida, ali, já foi melhor. O deserto das noites em Ipanema e no Leblon é sinal de que o estado da insegurança pública não poupa mais ninguém.
Era de se imaginar que a polícia existe para evitar conflitos que pusessem em risco a vida de pessoas. E que uma vez que tais conflitos estalassem, ela agisse na tentativa de evitar mortes ou um número maior delas. Não mais. Pelo menos não no Rio de um governador inepto que sucedeu a um governador corrupto, condenado, ontem, a 45 anos de cadeia.