De público, os deputados aliados ao presidente Michel Temer destratavam a nova denúncia que estava por vir contra ele finalmente apresentada, ontem, por Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República, a um dia do fim do seu mandato.
Nos corredores da Câmara, no escurinho dos seus gabinetes, em conversas reservadas com jornalistas, os deputados admitiam ansiosos não ver a hora de ter mais uma oportunidade de faturar à custa de um governo fraco, impopular e refém deles. É o que farão
Por faturar, na sua versão singela, entenda-se ganhar protagonismo, espaço na mídia, ter seus votos disputados pelos que querem salvar ou destruir Temer. Faz bem ao ego. Na versão mais crua, entenda-se obter cargos no governo e embolsar algum. Faz bem ao bolso.
A segunda denúncia de Janot tem consistência de sobra para causar sérios danos à imagem de Temer, mas não só. Sobra para o núcleo duro que comanda o PMDB há décadas. Sobra para os governos de Lula e de Dilma. Sobra para o apodrecido sistema político do país.
A leitura de suas duzentas e tantas páginas ilumina a história do exercício do poder por entre nós com ênfase natural no que ele tem de pior, de mais repugnante, de mais prejudicial ao distinto público, particularmente ao que se situa na base da pirâmide.
Aqueles que escalaram o poder vociferando contra as injustiças sociais são os que mais roubaram e deixaram roubar. São também os que construíram fortunas que hoje escondem em malas e caixas de papelão ou em contas bancárias no exterior.
É por isso que todos eles, independente de ideologia e de cor partidária, estão unidos para barrar qualquer tentativa de mudar tudo o que aí está. De fato estão acuados pela Lava Jato e por seus filhotes. Mas ainda longe de jogarem a toalha.
Conceder licença para que Temer seja processado por corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa seria renunciar à própria defesa. Temer não se importa nem um pouco em ser apontado como o melhor representante deles. Porque é.
Temer ficará. E uma vez que a economia se recupere a um ritmo superior ao que se imaginava, não se descarte a hipótese de ele desejar ficar por mais quatro anos. No mínimo, jogará um papel importante na escolha do seu sucessor.