Nada como viver dias interessantes. Desde que consigamos fazer deles algo… interessante.
Nesta quarta, teremos a terceira edição do Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. A primeira se deu e, 1969, com o filme de Glauber Rocha. A segunda, em maio. E, agora, o novo confronto.
Assiste-se, nesta quarta, a mais um embate entre o juiz Sérgio Moro e o petista Luiz Inácio Lula da Silva. O PT resolveu organizar uma manifestação na capital paranaense, mas admite intramuros que o ânimo da militância está frio. Nesta terça, a legenda levou ao ar inserções do horário político em que diz que seu líder maior é vítima de uma campanha de ódio.
Vamos lá. No último embate que manteve com Sérgio Moro, Lula saiu, como sabe qualquer jurista, com a razão teórica na mão. Não adiantou. Afinal tratava-se, naquele caso, de saber se o tal tríplex de Guarujá pertencia ou não ao petista e, em pertencendo, se era fruto de propina. O Ministério Público Federal não conseguiu apresentar as evidências que sustentavam a denúncia, o que o juiz Moro admitiu nos embargos de declaração. O magistrado fez poucas perguntas sobre o imóvel em si e preferiu reforçar o papel de Lula como chefe de uma suposta organização criminosa — embora não tenha empregado essa expressão.
Como o juiz não dispunha de elementos fornecidos pelo MPF para evidenciar que o imóvel pertencia a Lula, optou por investir na tese de que, afinal, sendo o supremo comandante do PT, tinha o controle dos fatos criminosos que se apontavam ali. Também pesou na decisão o testemunho de Léo Pinheiro, pioneiro no papel ora desempenhado por Antonio Palocci. Já explico.
Qual é a denúncia contida na ação penal na qual Lula depõe nesta quarta? O ex-presidente é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro na sua relação com a Odebrecht, que teria comprado um terreno, depois não utilizado, para a construção do Instituto Lula. O dinheiro teria origem em propinas que a empreiteira pagaria ao PT.
Assim, em tese ao menos e segundo uma abordagem, digamos, técnica da Justiça, segundo as regras do Estado de Direito, o petista deveria falar sobre esse assunto. Assim como, naquela audiência do dia 10 de maio, deveria tratar do tríplex apenas.
Mas até as pedras sabem que o depoimento não se limitará à questão do terreno. E, desta feita, talvez ao próprio Lula interesse tratar da questão mais geral. Por quê? Antonio Palocci, ex-homem forte do petista no mundo das finanças e embaixador junto ao empresariado e a setores conservadores, prestou um depoimento devastador a Sérgio Moro no último dia 6. Ali, o que menos importou foi o tal terreno.
O ex-ministro e ex-homem de absoluta confiança de Lula não se limitou a confirmar a história do imóvel. Isso foi café pequeno. Segundo aquele ora chamado de “traidor” pelos petistas, Lula fez um “pacto de sangue” com o comando da Odebrecht orçado em fabulosos R$ 300 milhões. E, no pacote, olhem para a enormidade da coisa, estaria até o tal sítio de Atibaia, questão que é investigada em outra ação penal.
Notem: o papel de Lula na eventual organização criminosa em que teria se convertido o PT e a atuação do partido no, digamos, comando geral do petrolão é investigação que corre no Supremo. E o natural seria, então, que, chegada a hora do depoimento, Lula se defendesse dessa acusação. Mas Palocci lhe impõs outra disciplina. A exemplo de Léo Pinheiro, que primeiro fez confissão a Moro e só depois cuidou da delação, também ele resolveu entoar o “melo de Luan Santana”: “eu tou contando tudo e não tou nem ligado pro que vão dizer”.
Foi o maior revés que o partido sofreu desde que estourou o petrolão. O mesmo se diga para Lula, pessoalmente. Em termos políticos, é muito pior do que o impeachment de Dilma, uma figura que sempre foi meio descolada do partido — além de deslocada na rotina interna.
Nesta quarta, Lula certamente negará que tenha acertado qualquer vantagem para a compra do tal terreno, que, de resto, não foi usado pelo instituto. Mas sabe que isso não tem importância. Sua principal tarefa, e vamos ver como Moro conduzirá o interrogatório, será negar que tenha estruturado a organização criminosa.