O jogo. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

O jogo. Por Ricardo Noblat

11 de setembro de 2017 às 10h05 Por Heron Cid
Arte: Antônio Lucena

Ricardo Noblat

Nada de pessoal. Ao bater o desespero, cada um que tente salvar-se mesmo que à custa de entregar a própria mãe, quanto mais um amigo de fé, companheiro, camarada.

Palocci entregou Lula, seu ex-chefe de governo e de gang, em troca de menos anos de cadeia e de preservar parte da fortuna que amealhou por meios nefastos. Lula está furioso? Paciência. É do jogo. Embora para ele o jogo tenha terminado.

O jogo para o empresário Joesley Batista, que gravou Temer no porão do Palácio do Jaburu, ainda não acabou com a sua prisão decretada na última sexta-feira à noite pelo ministro Edson Fachin, um dos relatores da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.

A prisão é de cinco dias. Poderá tornar-se provisória e renovada quantas vezes a lei permitir. A Joesley, porém, ainda restam fichas na mesa.

Segue o jogo para Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República. Ele já teve mais sorte. Parecia pronto para ganhar quando denunciou Temer por corrupção passiva.

O governo balançou, balançou, mas não caiu. Ninguém quer vê-lo no chão. Pagou caro aos deputados que votaram contra o pedido de licença para processar Temer. Sua popularidade despencou. Está perto da casa do zero. Um assombro!

Janot imagina sair do jogo apenas com fortes escoriações devido à lambança de ter se deixado enganar por Joesley que lhe sonegou informações. Não para de disparar flechadas enquanto isso.

A última será novamente em Temer, a quem acusará por corrupção e obstrução da justiça. Lula jamais disse quem o traiu no caso do mensalão. Na certa porque não foi traído. Sabia de tudo. Janot foi traído por vaidade e onipotência.

Joesley guarda gravações inéditas para oferecer quando negociar outra vez os benefícios agora suspensos da delação. Sabe-se lá o que seu advogado combinou com Janot no último sábado à mesa de um boteco de Brasília sob a proteção de grades de cerveja.

Uma vez preso, preso deveria Joesley permanecer porque debochou do Ministério Público, de ministros togados e do distinto público. É um criminoso contumaz e debochado.

Tão cedo Palocci abandonará o jogo. Tem cartas nas mangas para baixar e chances de obter da Lava Jato o prêmio pela delação que ainda não fez .

Como exímio jogador e conhecedor profundo dos mais cabeludos segredos das altas rodas do poder nos últimos 15 anos, ainda causará severos estragos à reputação alheia, especialmente à de Lula a quem pouco ou nada deve mais. Antes pelo contrário.

Às vésperas do estouro do mensalão, depois de ter-se reunido com uma vidente no seu apartamento de São Bernardo do Campo, Lula contou a um amigo que o visitava sobre o furacão que estava por vir.

Profetizou: “Todo mundo vai achar que o governo não mais se sustentará e que talvez nem chegue ao fim. Pois acredite: a montanha vai parir um rato. Pensam que vão me destruir. Vou me reeleger e fazer o meu sucessor”. Na mosca!

Lula não disse como sobreviveria. Mas adiantou: “Vou aproveitar para me livrar de Zé Dirceu e até de Palocci”.

De José Dirceu, então chefe da Casa Civil do governo, Lula se livraria dali a um mês. Entregou a cabeça dele para salvar a sua.

No ano seguinte, livrou-se de Palocci, escapando ao escândalo da quebra do sigilo fiscal do caseiro que flagrou o então ministro da Fazenda na companhia de mocinhas alegres e lobistas famintos.

Pressionado pela família e o horror ao cárcere, chegou a hora da desforra para Palocci. Ela será maligna.

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