O mundo de Janot caiu. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

O mundo de Janot caiu. Por Reinaldo Azevedo

6 de setembro de 2017 às 09h28 Por Heron Cid

Reinaldo Azevedo

Sabem o que não suporto em Rodrigo Janot no que diz respeito ao estilo pessoal e ao jeito de fazer as coisas? A sua impressionante vulgaridade, aliada a um desprezo solene que nutre pela inteligência alheia. Se bem que, convenham, ele não tem perdido muita coisa ao apostar na burrice alheia, especialmente nas obsessões canhestras de certos reaças que mais sabem dizer por que não querem Lula do que afirmar por que querem o seu candidato, seja ele quem for.

Mais: a vaidade de Janot não lhe oferece espaço para pensar nos interesses do país. Ele rende o que for necessário no altar da arrogância, da vaidade, da truculência. E foi o que fez nesta terça ao entregar a denúncia contra Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Antonio Palocci e mais uma penca de companheiros. Acusação: integrar uma organização criminosa, que teria desviado pelo menos R$ 3 bilhões da Petrobras. Oficiosamente, a investigação é chamada de “quadrilhão do PT”. Integram o grupo Guido Mantega, Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo e Edinho Silva. O procurador-geral pede ainda que os petistas sejam condenados a indenizar a Petrobras em R$ 6,5 bilhões, além do pagamento de R$ 150 mil por danos morais.

Atenção, meus caros! Se há coisa de que tenho certeza é o fato de que o PT ter organizado uma estrutura para assaltar o Estado brasileiro, por intermédio das estatais e demais órgãos públicos. Mais do que uma determinação, eu diria que agir assim é um mandamento da natureza petista, que mistura o público e privado; o interesse nacional e as necessidades do partido; sua pantomima particular com a história universal. Logo, acredito que, com efeito, os crimes foram cometidos.

Dito isso, vamos ao ponto: será mesmo que o melhor dia para ter apresentado essa denúncia era esta terça-feira? No momento em que a Lava Jato passa para uma desmoralização como nunca se viu; em que o procurador-geral é obrigado a vir a público para admitir que seu braço direito conspirava contra os interesses do país; em que alguns setores mesmerizados pelas mistificações do MPF — e da PGR em particular — acordam para a realidade; a meros 12 dias de entregar o cargo, eis que vem o sr. Janot para acusar Lula de ser o comandante de uma organização criminosa? Vocês sabem: é aquele Power Point de Deltan Dallagnol, o rapaz que ainda não negou com a devida ênfase que vá ser candidato.

O apoio de esquerdistas à Lava Jato é, no geral, pequeno. Os companheiros acham que se deu um golpe em Dilma Rousseff com a ajuda dos procuradores — e de Janot em particular. A operação tem se escorado numa versão rebaixada da direita, que abandonou qualquer veleidade de economia política em favor do proselitismo mais rasteiro. E Janot está a precisar de apoio, não é?

Então ele não hesita: larga a denúncia contra Lula ao mesmo tempo em que é obrigado a admitir as ilegalidades da Lava Jato, o que os fanáticos sempre se negaram a ver — inclusive os fanáticos do antipetismo. Se o acordo com Joesley feria o princípio de uma certa moralidade abstrata, o que se descobriu no seio da Lava Jato é, sem favor, uma espécie de… organização criminosa.

Reitero: pessoalmente, não tenho dúvida de que o PT operou com o Estado brasileiro no formato de uma organização criminosa. Mas essa questão, dadas a sua gravidade e a importância política, poderia ficar sob os cuidados de Raquel Dodge, que vai substituir Janot. Mas quê! Desmoralizado e humilhado, resolveu surfar mais uma vez nas ondas fáceis do antipetismo. E resolveu tratar a direita como o cão de Pavlov, aquele que baba.

É claro que não será Janot a respeitar intelectualmente uma direita que não se respeita, certo?

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