O ex-presidente Lula da Silva (PT) começou seu discurso no Ponto de Cem Réis com uma promessa: não falaria sobre a Lava Jato.
Inevitável. Lula não resistiu e desfilou suas conhecidas críticas ao que considera uma perseguição implacável contra ele, promovida por juízes e procuradores, e voltou a desafiar por provas. Apesar de já condenado.
Essa tônica tem sido recorrente. Em posição de defesa, o ex-presidente explora ao máximo a condição de mártir. Uma estratégia até compreensível para manter o script da vitimização e alimentar seus seguidores.
Esse recurso tem um limite. Se por um lado mantém viva sua militância, Lula não consegue romper a barreira do universo eleitoral que gostaria de ouvir mais do que isso.
São milhões e milhões de brasileiros arruinados, desempregados, com poder de renda rebaixado e sem grandes perspectivas.
A circunstância desfavorável no Judiciário e a opção nítida do contraponto e confronto levam Lula a limitar seu poder de oratória a uma eterna contenda com os órgãos de investigação.
Discurso que já bateu no teto. Se quiser voltar ao poder, e se puder, Lula deve virar a página e convencer o eleitorado com razões objetivas para merecer uma nova e terceira oportunidade de governar o Brasil.
Seus dois governos já são conhecidos e mereceram, no seu tempo, aprovação. Mas o Brasil já deu sinais de que quer recuperar as perdas dos últimos anos, especialmente registradas no Governo Dilma, e avançar a outros patamares.
A Caravana tem que fazer valeu seu nome e oferecer esperanças de tempos melhores. Ficar no conflito, no maniqueísmo, no discurso do nós contra eles, não seduzirá a juventude, nem muito menos recuperará a credibilidade perdida em vários segmentos.
Tem mais chances de conquistar o eleitor aquele que provocar um olhar para o horizonte. O retrovisor não serve para quem quer enxergar o futuro.