Lembra-se da mais recente megaoperação contra o banditismo no Rio de Janeiro realizada há quase dez dias? Foi um fiasco, admitem reservadamente autoridades do governo federal que a acompanharam de perto. E sabe por quê?
Porque vazaram antes informações, permitindo que seus principais alvos esvaziassem esconderijos de armas e escapassem de ser presos. Um único fuzil sequer foi apreendido.
O vazamento de informações é a maior ameaça ao plano traçado pelo governo federal, de comum acordo com o local, para reduzir ao máximo o estado de insegurança pública em que vive o Rio.
Não há a mais remota garantia de que o vazamento não voltará a se repetir, comprometendo os resultados de futuras megaoperações. A Polícia Militar do Rio é a principal responsável por isso.
No último dia 5, dos 40 mandados de prisão a serem cumpridos, só 18 o foram, nove dos quais contra pessoas já detidas. A operação que ocupou o Complexo do Lins na cidade do Rio mobilizou cerca de cinco mil homens – 3,6 mil do Exército e dos Fuzileiros Navais apoiados por 514 veículos, 71 blindados militares e helicópteros que sobrevoaram o local. Paraquedistas vigiaram a mata no entorno das favelas.
Saldo da operação: dois adolescentes presos e três pessoas mortas em confronto com a polícia. Apreendidas três pistolas, duas granadas e quatro radiotransmissores, além de parte de um roubo de carga.
E mais: quatro quilos de cocaína e 13 de maconha. Uma mixaria. No estado do Rio, registra-se em média 28 roubos diários de cargas transportadas em caminhões. Algo como 15 mil fuzis estão nas mãos de bandidos.
O ministro da Defesa Raul Jungmann considerou “razoável” e não “espetacular” o resultado da operação. “Agora, existe uma coisa chamada curva de aprendizagem, e o que é importante é que nós vamos melhorar a cada nova operação que se realize”, prometeu. “O trabalho está só no começo. O importante é que a população do Rio saiba que não está mais sozinha”. Palavras de conforto e ao mesmo tempo de frustração.
Para que os cariocas se convençam de que não estão mais sozinhos, o governo federal havia anunciado no dia 28 de julho passado o uso de 10 mil militares e policiais para reforçar a segurança no Estado.
Foi um ato de puro marketing com a volta às ruas de militares armados e de tanques. Durou poucos dias. Dali por diante seriam privilegiadas as intervenções pontuais com foco no desarmamento dos bandidos.
Tais intervenções, com base em um silencioso trabalho de inteligência, correm o sério risco de dar em quase nada. O insucesso de 5 de agosto pôs em xeque o comando integrado das operações.
Dele fazem parte representantes das Forças Armadas, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Militar e da Polícia Civil. De longe, a Polícia Militar é a mais infiltrada por gente ligada a bandidos.
A violência urbana no Rio é a quarta pior do país, mas em número de mortes é a primeira. Os militares mais uma vez não queriam se meter com ela porque não foram treinados para isso.
Meteram-se por decisão do presidente Michel Temer. Estão de mãos e pés atados: não podem admitir publicamente o vazamento de informações. Se o fizessem, ruiria a ideia inicial de um comando integrado.
Sozinhos, eles teriam, sim, meios e modos de fazer o que se espera deles. Mas a que custo em vidas, dinheiro e danos à própria imagem?