Que me perdoem os ardorosos defensores de reforma política como o elixir para todos os problemas do pervertido sistema eleitoral brasileiro.
Estou fora da militância que deposita fé numa mudança paradoxal dos costumes de campanha e do perfil dos eleitos a partir de uma modificação no texto da nossa Constituição.
A Câmara, em Comissão, aprovou ontem o tal Distritão, a sétima maravilha do mundo para os caciques que já entram com facilidade e muito dinheiro, claro, no atual modelo proporcional. Nada de substancial, portanto.
Nem Distritão, nem distritinho resolverão a prostituição pública das urnas em nossa jovem e controvertida democracia.
Pensar o contrário é acreditar em fadas e bruxas.
Enquanto se discute regrinhas, tira-se o quociente e elege-se os mais votados, empana-se o debate central da questão.
A essência da relação da política com a sociedade, e vice-versa, está desfocada. E esse debate ninguém quer fazer.
Algum político já foi preso por compra de votos ou saiu do mandato por contas reprovadas de campanha? Algum eleitor já foi punido em algum processo por vender o seu sufrágio?
A Justiça Eleitoral, afora o papel de fazer eleição, é o maior faz de contas. Nem estrutura própria de magistratura especializada tem. Finge contar com gente para fiscalizar e contabilizar, os políticos fingem que prestam contas e a gente, no final, finge que está tudo em ordem.
Nosso carma está na cultura em que, de um lado, o dono de capital considerável já é um candidato com boas chances de vitória, e de outro, o eleitor raramente aposta suas fichas em perfis que não demonstrem viabilidade e vitória. Leia-se, poder econômico.
O sistema em vigor seria perfeito se o candidato e o eleitor tivessem outro tipo de relação e perspectiva em relação a transparência, motivação do voto e o papel a ser cumprido, por ambos, nos mandatos.
A reforma eficiente é a de mentalidade. Do político e do eleitorado. Não será feita por novas emendas do que aí estão. Começa pela auto-crítica da política e de quem vota. O resto é maquiagem para disfarçar a verdadeira cara do problema.