Quem tinha dúvidas, agora não tem mais. As contestações do procurador-geral do Estado, Gilberto Carneiro, em relação às queixas do presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, Joás de Brito, ambas externadas no Frente a Frente, da TV Arapuan, são reveladoras.
Os dois poderes entraram num processo de colisão, coisa que não acontecia – ao menos frontalmente – entre outras gestões do Tribunal, quebrando uma praxe de relacionamento totalmente alinhado e ‘harmonioso’ com o atual Governo.
Ponto a ponto, Carneiro contestou dados e interpretações do presidente do TJ sobre duodécimos, considerou que o governador Ricardo Coutinho inovou ao estabelecer um teto em que os repasses nunca são inferiores ao mês anterior e viu no seqüestro de R$ 33 milhões do duodécimo uma espécie de retaliação da Presidência do Tribunal ao modelo estabelecido pela LDO.
Apesar de liderar os contra-ataques, Gilberto também agiu como bombeiro ao verbalizar disposição e movimentos de reconstrução de pontes para um diálogo mínimo e civilizado entre as partes, anunciando, inclusive, a decisão do governador de ter uma reunião para dirimir dúvidas, especialmente da política de pagamento de precatórios.
O Governo considera que faz mais do que todos os outros antecessores juntos e, portanto, atrasos de parcelas decorrentes de dificuldades orçamentárias, justificados formalmente, não deveriam culminar no ato mais radical da subtração de recursos do erário estadual.
O olhar antenado na política
Na contestação jurídica, Gilberto é didático e diplomático, sem perder a firmeza. Cumpre seu papel. Mas o que despertou mais atenções na entrevista – pelo menos do entrevistador e autor deste Blog – foi a compreensão do procurador além autos.
Seguidor ricardista deste os tempos de Assembleia, Carneiro é observador e conselheiro privilegiado. Voz ouvida dentro do círculo mais íntimo do Governo, em que pese preferir a descrição e nunca fazer questão de ostentar esta condição diferenciada, o procurador tem uma leitura serena sobre o cenário político que envolve seu ‘projeto’. Postura de poucos que figuram neste patamar, convenhamos. Gilberto só aparece quando é chamado.
Ao falar da sucessão estadual, Carneiro jogou ontem cartas na mesa. Confessou que a opção atual de Ricardo se manter no cargo até o fim do mandato não lhe surpreende, porque essa sempre foi a tendência do socialista manifestada nos bastidores.
Aliás, Gilberto lembrou que Ricardo viveu dilema parecido em 2010, quando o debate ético entre cumprir o mandato e sair para uma nova disputa foi pautado nos bastidores girassóis. Agora, a questão se repete noutras proporções e com personagens diferentes.
Antes era Luciano Agra, um amigo de três décadas. Hoje, é Lígia Feliciano, uma aliada política circunstancial. Desse terreno, Gilberto não fugiu e deu uma pista: a filiação extra PSB pesa. Traduzindo o sentido inverso: fosse filiada ao partido, Lígia – do PDT – seria vista com outros olhos internamente. Um recado? Uma senha?
Não ficou por aí. Sem constrangimento e reiterando respeito à prerrogativa individual de Ricardo escolher seu futuro em 2018, o procurador defendeu a disputa ao Senado como melhor encaminhamento para o fortalecimento do projeto socialista.
Um pensamento que embute a essência da estratégia posta no xadrez pelo governador. Ricardo dá seta pessoal para a esquerda. E seu grupo busca guindá-lo à direita. E será assim até abril de 2018.
Conclusão: pelo tom e equilíbrio do que expressou sobre eleição, na entrevista e nos seus bastidores, Gilberto é um dos integrantes do generalato que deveria ser mais escalado pelo comando girassol. E não só no front jurídico.
Seu labor e inspiração nas defesa nos tribunais em favor do Estado têm valido muito ao Governo, mas sua leitura e ponderação no campo político precisam ser mais consideradas e ouvidas internamente. Sua visão colabora e soma tanto quanto as peças jurídicas que assina.