O presidente não é obrigado a escolher entre o primeiro nome da lista tríplice para a Procuradoria Geral da República.
Michel Temer sequer estaria impelido a nomear um procurador da lista e poderia até optar entre qualquer um nome da instituição. Até quem não foi votado.
Ao não chancelar o primeiro colocado da votação, o procurador Nicolau Dino, Temer quebrou uma tradição em vigor desde 2003.
Um ritual consagrado pelo então presidente Lula da Silva e confirmado pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Mais do que ignorar o desejo da maioria dos procuradores e subverter o princípio da votação, defenestrando o mais votado, o atual presidente confirma as suspeitas.
Ele joga para a nomeação a torcida e o anseio de esvaziar a operação Lava Jato, escalando para a Procuradoria Geral uma Raquel Dodge, a primeira mulher ocupar o posto, crítica do atual procurador Rodrigo Janot.
Não que Dodge não mereça ocupar o posto. Pelo contrário, ela tem histórico de combate à corrupção e uma conduta elogiada.
É que a ruptura com a regra tem efeito pedagógico, nesse momento em que Temer anda altamente implicado, dias depois de ser denunciado por Janot, aliado de Nicolau Dino, o mais votado pela categoria.
Sem nenhum pudor, Temer fortalece a sensação do esforço do PMDB e do seu governo de causar uma hemorragia à operação que derrubou o PT do poder e ameaça as colunas de sua permanência.
Um retrocesso. A mais clara e cabal tentativa de golpe na Lava Jato.
Caiu a última máscara do estadista.
Que Raquel Dodge preserve sua biografia, contrarie e enterre os coveiros da Lava Jato.