O que o presidente Michel Temer ganhou com a sua viagem à Noruega e à República Socialista Federativa Soviética da Rússia – no mundo inteiro conhecida como Federação Russa ou simplesmente Rússia? (Se preferirem em russo, Российская Федерация, Rossiyskaya Federatsiya.)
Deixou para trás a crise política que ameaça seu mandato desde que se soube do seu encontro em 7 de março último no porão do Jaburu com o empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, ali admitido com o nome falso de Rodrigo. Mas a crise teimou em não deixá-lo.
Em Oslo, capital do Reino da Noruega (Kongeriket Norge em norueguês bokmal e Kongeriket Noreg em norueguês nynorsk), Temer foi recebido pelo chefe interino do cerimonial do governo, a maior autoridade local que compareceu ao seu desembarque.
Mais tarde, na Associação dos Armadores, reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores e com empresários. O que chamou de “PIB da Noruega” eram representantes de empresas daquele país que têm negócios no Brasil. Nenhum deles era o dono.
Antes de ir dormir foi surpreendido com o anúncio inesperado feito pelo ministro do Meio Ambiente da Noruega da redução de cerca de metade do aporte do país ao Fundo da Amazônia por causa do aumento do desmatamento na região no ano passado.
O corte nos recursos deve chegar perto de R$ 166 milhões. É a segunda vez que a Noruega diminui sua contribuição. “O desmatamento cresceu no Brasil e haverá menos dinheiro”, disse o ministro de lá. “A culpa é do governo de Dilma”, respondeu Sarney Filho, ministro de cá. Vexame!
A imprensa norueguesa destacou um único repórter para ouvir o que Temer tinha a dizer. O repórter, na verdade, era um estagiário, e aquela sua terceira cobertura desde que se formara em jornalismo. Estava interessado em saber o que Temer achava da crise política no Brasil.
A passagem de Temer por Moscou também não chamou a atenção da imprensa, nem mesmo daquela diretamente controlada pelo governo. Recebido no aeroporto pelo sub do Ministro das Relações Exteriores, reuniu-se depois com empresários de segundo escalão.
Foi ao teatro à noite, onde se encontrou com o presidente Putin. No dia seguinte foi recebido no Kremlin por Putin e pelo primeiro-ministro da Rússia. Conversaram banalidades, almoçaram e se despediram. Do Brasil, por telefone, Temer só recebeu más notícias.
A proposta da reforma trabalhista em comissão do Senado foi derrotada. Ficou para julho a votação no plenário do Senado, se de fato ocorrer. Sua queixa-crime contra Joesley foi recusada pela Justiça. Por maioria de votos, o Supremo Tribunal Federal manteve a delação do Grupo JBS.
Temer afirmou em Oslo que a crise econômica foi superada por aqui. O Banco Central afirmou que a crise política poderá fazer muito mal à economia. O ministro Edson Fachin deu prazo de até cinco dias para que a Procuradoria Geral da República apresente a denúncia contra Temer.
O presidente voltará de sua viagem pior do que foi.