Quando, segunda-feira, escrevi sobre “A Pedagogia do Destrato”, baseado em relato de prefeitos e deputados da base governista, nem imaginava que estaria a caminho um exemplo prático, poucos dias depois.
Deputado federal Veneziano Vital (PMDB) foi o agente político alinhado ao Governo da vez a sentir na pele.
Designado pela Câmara Federal, por sugestão do Ministério do Turismo, Veneziano se esforçou ao máximo para prestigiar um dia histórico. A formalização, na Argentina, do voo João Pessoa/Maceió/Buenos Aires.
O gesto de aliado recebeu em troca uma indiferença glacial e um tratamento quase de ‘penetra’, dispensado somente a alguém indesejado.
A presença do deputado só foi noticiada por blogs, como este que informou em primeira mão, e outros sites de política. Dependesse das fontes oficiais, ninguém saberia que Veneziano apareceu por lá.
Nenhuma foto, nenhuma menção, por mais singela e formal que fosse. A tática do desprezo, como resposta, mais uma vez contaminou o Governo que deveria ressaltar toda a aparição que robustecesse o evento.
Depois do estrago mostrado, com a postagem revelando que o Governo, em seu release oficial, ignorou completamente a presença de um parlamentar revestido do cargo e integrante da Comissão de Turismo da Câmara, houve uma tentativa de remendo.
Alguns registros informais, improvisados e de última hora e, de repente, fotos espalhadas nas redes sociais com Veneziano na comitiva. Trinta horas depois da solenidade. Uma emenda pior do que o soneto.
Pelo perfil que conhecemos, Veneziano não foi tirar casquinha do governador. Foi cumprir uma designação parlamentar e aproveitou para combiná-la com uma atitude política de quem faz questão de estar ao lado de quem apóia.
Mas, digamos que ele tivesse desembarcado na capital da Argentina somente para aparecer com Ricardo, que mal teria? Não é o que outros aliados fazem ou fizeram, vide João Azevedo, Gervásio Maia e agora até Buba Germano, estes com a anuência e entusiasmo do governador?
Em nenhum momento sua presença tiraria o brilho, a autoridade e a liderança da estrela maior da festa. Pelo contrário. Seria mais um holofote a iluminar Ricardo Coutinho num dia de glória. Não foi, porém, esta a interpretação.
E vamos combinar. Veneziano Vital não é qualquer um. É o mais importante aliado do Governo na segunda mais influente cidade do Estado. É ex-prefeito de Campina Grande, por duas vezes.
Se cometeu o ‘crime’ de um dia ter liderado a Oposição ao Governo, ele já pagou o preço desde o segundo turno de 2014, quando precisou refazer o discurso e andar pelas ruas de Campina Grande e cidades da região rogando por mais votos para garantir a reeleição de Ricardo.
Já expiou o seu pecado com ausência total de reciprocidade na eleição de 2016 em Campina Grande. Já paga o preço quando assiste adversários e até críticos em cargos estaduais na principal base política, no seu terreiro. Já é flagelado por reivindicar, sem sucesso, indicações tacanhas na cidade.
Veneziano merece um tratamento à sua altura. Não é a derrota em Campina que lhe tirou o tamanho. O Governo, com toda sua estrutura, perdeu duas vezes seguidas em João Pessoa, a cidade onde Ricardo exerce mais protagonismo no Estado.
E boa parte do desastroso resultado em Campina deve ser creditado à tresloucada estratégia socialista na cidade, que além de negar o apoio natural, ainda subtraiu legendas na coligação e deu o tiro de misericórdia.
O Governo precisa reconhecer a falha na condução destas relações. Sobretudo, porque caminha – como qualquer outro – para um período de contagem regressiva. Agindo dessa forma, inspira muitas vítimas do destrato a guardar pratos de sopa no freezer.