O cenário que se testemunha nas ruas principais do Centro Histórico de João Pessoa diverge do posto de terceira capital mais antiga do Brasil, uma marca que, por si só, já deveria instigar na cidade uma vocação à preservação.
A Prefeitura de João Pessoa tem feito intervenções de pontos estratégicos que estão sob o seu guarda-chuva. A Casa da Pólvora, reformada e revitalizada, é um exemplo.
O problema maior está no conjunto arquitetônico privado. São casarões e prédios em fase de ruínas pintando de cinza a paisagem e dando ao centro da cidade o cenário de terra arrasada.
Enquadrados pelas leis, proprietários ou herdeiros não são e nem se sentem estimulados à recuperação destes patrimônios tombados. Assim, deixam as edificações ruírem o quanto mais rápido para reconstruir ou negociar com a iniciativa privada.
Já existe uma Lei do deputado estadual Anísio Maia, dando direito ao poder público de desapropriar imóveis abandonados no âmbito do Centro Histórico. Até agora, nada foi feito na prática e os fantasmas continuam de pé, assombrando e esperando à hora da queda total.
João Pessoa e a Paraíba vão se conformando com a lógica política de se construir obras megalomaníacas e futuristas – perfiladas na maioria por muita soma de dinheiro e pouca serventia real – e esquecendo de garantir o basilar: a memória do passado, bem imaterial, legado e referências para as gerações de hoje e de amanhã.
Uma capital com a característica de João Pessoa não deveria assistir candidamente esse processo de deterioração de sua imagem. A cidade esbarra todo dia com a Casa de João Pessoa, o homem que lhe deu nome, caindo aos pedaços, à vista de todos.
O desmanche, lento e gradativo, daquela edificação, expressão simbólica para a nossa história, grita o protesto do silêncio. Cada vez que um novo tijolo cai.